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Aliados do vice-presidente Michel Temer reagiram, neste domingo, com críticas diretas à presidente Dilma Rousseff em razão do "pacote de bondades" anunciado pela petista, que prevê reajuste de benefícios do Bolsa Família e correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF).
A análise desse segundo item da lista depende de aval do Congresso. Por isso, parlamentares defendem esperar a eventual formação de um novo governo e a análise da proposta pela futura equipe econômica, em caso de aprovação do afastamento de Dilma pelo Senado.
- O povo não é bobo - criticou o ex-ministro Moreira Franco e braço direito do vice, após a presidente confirmar os índices de correção de 5% na tabela do IR e 9% para os benefícios sociais.
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Moreira afirmou que o último aumento dado aos beneficiários do Bolsa Família foi em 2014, próximo das eleições presidenciais "e sem considerar a inflação".
- Só agora anuncia um novo reajuste - atacou ele, que é responsável pelo elaboração do programa Travessia Social do PMDB, que prevê reformulação do Bolsa Família, também com reajuste dos benefícios.
Foi essa decisão do PMDB de prometer a correção que levou Dilma a se antecipar. No domingo, a presidente voltou a criticar os peemedebistas e a apontar riscos de "regressão" nos programas sociais. Moreira rebateu.
- A presidente Dilma Rousseff insiste na manipulação e na propaganda enganosa: a proposta da Travessia Social é manter o Bolsa Família para todos. E melhorar para os 5% mais pobres.
O reajuste dos benefícios do Bolsa Família enfrentava resistência do Ministério da Fazenda, porque o rombo nas contas públicas está próximo de R$ 142 bilhões em 12 meses. A avaliação era de que o espaço de R$ 1 bilhão no Orçamento do programa, que será usado para o reajuste, deveria ser aplicado no pagamento de despesas como as tarifas bancárias devidas à Caixa Econômica Federal.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o reajuste dos benefícios do programa Bolsa Família já estava previsto no orçamento deste ano.
Tabela do IR
O anúncio da correção da tabela do IR, que atende sobretudo à demanda da classe média, é o que mais incomodou os peemedebistas. A mudança terá de ser aprovada pelo Congresso e ficará mais difícil para um provável governo Temer evitar isso sem desgaste político.
A equipe econômica de Dilma diz que pretende fazer a mudança com impacto neutro, aumentando a carga tributária das pessoas físicas que recebem salário como empresas - outro vespeiro com forte resistência no Congresso.
O custo da correção da tabela sem medidas compensatórias poderá representar mais de R$ 6 bilhões de perda de arrecadação. Para o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), Dilma tenta usar estratégia de "terra arrasada" antes de deixar o governo, em prática que seria semelhante ao que ocorria antes da Lei de Responsabilidade Fiscal.
O líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM), comentou que a correção da tabela deve ser analisada primeiro pela equipe que Temer vier a formar, antes de ser votada pelo Congresso. Ele criticou também o reajuste do Bolsa Família em um momento de aperto fiscal.
- Isso é visto como ato de desespero. Dilma não vai ganhar um voto com isso - disse.
- Isso não cola mais. Ela sabe que vai ser afastada e faz isso na inconsequência - emendou o líder do PSDB, deputado Antônio Imbassahy (BA).
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