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Às vésperas da votação que pode alçar Michel Temer ao Palácio do Planalto, o vice-presidente trabalha para definir, o quanto antes, os nomes e o tamanho da equipe de ministros, além das medidas que pretende anunciar para enfrentar a crise econômica. Ontem, no Palácio do Jaburu, o chamado "núcleo duro" do futuro governo interino voltou a se reunir. Henrique Meirelles, provável titular da Fazenda, também estava presente ao encontro.
Temer discute há dias com Meirelles as primeiras medidas da área econômica, concebidas para destravar o crédito, aquecer a economia e reduzir ou limitar os gastos do governo. "Atrair investimentos externos" e "dar segurança jurídica aos investidores" são questões citadas com frequência por pessoas próximas ao vice.
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O grupo próximo a Temer trabalha desde a semana passada em um pente-fino nas medidas provisórias enviadas por Dilma Rousseff e que ainda tramitam no Congresso. O recente pacote de bondades será reestudado. Sob a chefia de Moreira Franco, também haverá uma revisão no programa de concessões federais.
A principal dor de cabeça de Temer é o organograma da Esplanada. Ele chegou a cogitar a redução de 32 para 20 ministérios, mas tem dificuldades para acomodar partidos aliados. Os próximos dias serão de conversas intensas com presidentes e líderes partidários para tentar enxugar a máquina. O comando de estatais está no pacote negociado para assegurar maioria no Congresso a partir das legendas do chamado centrão e da atual oposição: PP, PR, PSD, PTB, PRB, PV, DEM, PPS, SD, PSB e PSDB.
– Vai ser preciso dar uma peitada e terminar com a romaria de pedidos. Vai ser uma peitada elegante, ao estilo Temer – afirma um aliado do vice.
Temer tenta resolver os nós de Justiça, Saúde e Cidades. A indicação do cirurgião Ricardo Cutait para Saúde, na cota do PP, pode ser revista, abrindo espaço ao deputado Ricardo Barros (PP-PR). Na Agricultura, também com o PP, o favorito é o senador Blairo Maggi (PR-MT), que trocaria de partido para ser ministro. As bancadas do PMDB da Câmara e do Senado ainda discutem nomes e pastas.
Nos bastidores, a equipe do vice também discute o rito da posse, caso se confirme o afastamento de Dilma. Os peemedebistas acreditam que o correligionário assumirá na quinta-feira, um dia após a votação do impeachment no Senado. Sem transição, os ministros podem ser nomeados no mesmo dia, por meio de edição extra do Diário Oficial, ou na sexta-feira. Segundo o deputado Osmar Terra (PMDB), cotado para o Ministério do Desenvolvimento Social, a posse deverá ser "sóbria".
– Não há clima para comemorar nada na situação em que o país se encontra – avalia.
Temer também prepara o esboço da primeira fala à nação como presidente interino. Parte dos aliados defende um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV. Outra, diz que a melhor opção seria uma entrevista coletiva.
Na semana mais importante de sua carreira política, o vice ainda terá de lidar com a situação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afastado da presidência da Câmara e do mandato pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Ministros com as indicações encaminhadas
Fazenda: Henrique Meirelles (PSD-SP)
Casa Civil: Eliseu Padilha (PMDB-RS)
Secretaria de Governo: Geddel Vieira Lima (PMDB-BA)
Planejamento: Romero Jucá (PMDB-RR)
Relações Exteriores: José Serra (PSDB-SP)
Cultura: Roberto Freire (PPS-SP)
Agricultura: Blairo Maggi (PR-MT)*
Desenvolvimento Social: Osmar Terra (PMDB-RS)
Transportes: Maurício Quintella (PR-AL)
Portos: Helder Barbalho (PMDB-PA)
Comunicações: Gilberto Kassab (PSD-SP)
Desenvolvimento Agrário: Zé Silva (SD-MG)
*Cota do PP