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Temer reage contra desgaste prematuro do governo

Presidente interino aposta na coesão da base para mostrar que a sua gestão segue forte, apesar de demissões recentes de ministros

Guilherme Mazui / RBS Brasília

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Em afago a aliados, presidente interino participou de almoço com deputados

Há três semanas como presidente interino, Michel Temer tenta conter a instabilidade precoce de seu governo, alvejado pela saída de dois ministros flagrados em conversas para frear a Operação Lava-Jato. O peemedebista tem o desafio de manter a base coesa no Congresso e driblar a imagem de que sua gestão compactua com desvios éticos.

Diante da incerteza da extensão da Lava-Jato, paira no Palácio do Planalto a preocupação com os desdobramentos da delação de Sérgio Machado. As conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro derrubaram Romero Jucá e Fabiano Silveira dos ministérios do Planejamento e de Transparência, gerando críticas ao presidente interino.

– Falta ética ao governo desde a sua ascensão até a condução – critica o deputado André Figueiredo (PDT-CE), ex-ministro de Dilma Rousseff.

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Para Ricardo Caldas, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), o discurso de combate à corrupção não casa com as indicações de investigados na Lava-Jato para o primeiro escalão do governo:

– Foi um erro estratégico, criou um problema desnecessário. Por outro lado, demitiu logo os ministros. Não os deixou dentro do governo, como fez Dilma.

Aliados do interino seguem no mesmo discurso, lembrando que nomes como Edinho Silva e Aloizio Mercadante continuaram ministros com a petista.

– As demissões rápidas mostram uma gestão que não pactua com o erro. Isso só reforça o apoio do Michel a Lava-Jato – assegura Darcísio Perondi (PMDB-RS), vice-líder do novo governo na Câmara.

Na avaliação de parlamentares e de especialistas, as baixas na Esplanada arranham a imagem de Temer, porém ainda não derreteram sua base no Congresso.

O sociólogo Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), afirma que o interino montou um "ministério real", tendo de ceder aos partidos de sua base, inclusive ao próprio PMDB, famoso por sua fome por cargos e divisão entre caciques:

– A não ser que apareça algo que envolva diretamente o próprio Temer, a sua governabilidade permanece, já que o governo anterior estava inviabilizado.

Na terça-feira, em afago aos aliados, o presidente interino participou de almoço com deputados da base, que preveem até a próxima semana a aprovação em dois turnos na Câmara na PEC da Desvinculação das Receitas da União. No encontro, o caso dos ministros demitidos foi considerado "passado".

– Falou-se de propostas para tirar o país da crise. Há boa vontade da base para votar as reformas propostas – afirma o deputado Aguinaldo Ribeiro (PB), líder do PP.

Temer também tenta reverter o desgaste com atos voltados para recuperação da economia. Nesta quarta-feira, ele empossa os novos presidentes da Petrobras, Pedro Parente, e do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques.

A instabilidade do novo governo anima petistas, esperançosos em um retorno de Dilma após o julgamento do impeachment no Senado. O partido monitora 11 senadores que poderiam mudar de voto, entre eles Romário (PSB-RJ). Novas revelações envolvendo nomes da gestão Temer são consideradas decisivas para criar um clima contrário à cassação de Dilma.

– Para quem falava em governo de união, observa-se que Temer está unido apenas contra os interesses do país – diz o senador Humberto Costa (PT-PE).

"Governo já começa a se fragilizar"

Coordenador do Programa Brasil da Transparência Internacional, Bruno Brandão considera "previsível" a queda de dois ministros do governo Michel Temer flagrados em conversas para atrapalhar as investigações da Lava-Jato.

Para um governo que se diz de "salvação nacional", como repercute a queda de dois ministros por suspeitas de tentativa de obstrução da Lava-Jato?
É previsível pela composição de um ministério com nomes citados e investigados na Lava-Jato. É um governo que já começa a se fragilizar por essa composição temerária. As votações não serão tão fáceis e a composição pode falhar diante da pressão da opinião pública.

No atual estágio da Lava-Jato, é possível barrá-la?
O combate à corrupção é a principal preocupação da sociedade. Os diálogos mostram a preocupação de uma classe política que perdeu o controle de um sistema que garantia a impunidade. Essa perda leva a ações desesperadas. E isso é muito positivo.

Em discurso, Temer defendeu a continuidade da Lava-Jato. O senhor vê ações práticas ou apenas apoio retórico?
Ficou um ministério mais comprometido com a sabotagem da Operação Lava-Jato do que com o seu progresso.

Por que a Transparência Internacional suspendeu o diálogo com o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle?
Além de o antigo ministro não ter histórico de realizações no combate à corrupção, as revelações dos áudios iam contra a moralidade para ocupação de cargo público.

Qual o efeito prático da mudança da Controladoria-Geral da União (CGU) para Ministério da Transparência?
A CGU é um órgão que realizou avanços, mas que estava sucateado. A Transparência Internacional não se precipitou para criticar a mudança. Queria ver se o novo ministério teria orçamento, se desvinculado do gabinete da Presidência teria autonomia. Até o momento, não se viu mudanças para melhorar. Fica o medo do risco de retrocessos.

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