
Protagonistas dos primeiros dias do julgamento da presidente afastada Dilma Rousseff, as oito testemunhas indicadas por defesa e acusação ficarão confinadas em um hotel a três quilômetros do Congresso. Hospedadas em quartos separados, estarão incomunicáveis, proibidas de conversar umas com as outras e sem acesso a TV, telefone ou internet. Um isolamento que só deve terminar no sábado.
Acusada de crime de responsabilidade e com risco de ter o mandato cassado, Dilma encara o último ato do processo de impeachment a partir de quinta-feira, quando o Senado abre a sessão de julgamento, com previsão de se estender até 30 ou 31 de agosto. Os trabalhos começam pelos depoimentos das testemunhas, duas de acusação e seis de defesa, que serão ouvidas uma de cada vez.
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Por aplicar no rito do julgamento o Código de Processo Penal, o Senado tratou de providenciar o isolamento das testemunhas, medida adotada em tribunais do júri. A intenção é evitar que versões sejam combinadas. Entre os indicados pela acusação para falar aos parlamentares está Júlio Marcelo de Oliveira, procurador no Ministério Público de Contas junto ao Tribunal de Contas da União (TCU). Na lista de escolhidos pela defesa, figura o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa.
A partir desta quarta-feira, as testemunhas entram no confinamento no Grand Bittar, um cinco estrelas de 16 andares, localizado em um setor de hotéis no coração de Brasília, próximo da Esplanada dos Ministérios e do Congresso. Com piscina, academia, sushi bar, restaurante internacional e centro de eventos, o local costuma hospedar políticos de passagem pela Capital e receber encontros organizados por partidos e entidades de classe.
Protegidas por policiais legislativos, que também ficarão hospedados no Grand Bittar, as testemunhas serão levadas uma a uma ao Senado. Seguirão em carros oficiais e aguardarão em salas reservadas até a chamada ao plenário. Uma testemunha não terá conhecimento do conteúdo da explanação da outra. Encerrada a oitiva, ocorre o regresso ao hotel.
O período de reclusão só terminará quando as oito falas forem concluídas, o que, pelas previsões de parlamentares, deve ocorrer no sábado. À frente da sessão de julgamento, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, fará as primeiras perguntas dos depoimentos, seguido pelos senadores inscritos, acusação e defesa. Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) apelou ao "bom senso" dos colegas para evitar questões longas.
– Espero bom senso, porque se as oitivas andarem rápido não precisaremos trabalhar no sábado e no domingo. Caso contrário, vamos ter de trabalhar, porque na segunda-feira vamos ouvir a presidente Dilma Rousseff – destacou.
Na terça-feira, a base do presidente interino Michel Temer, que pretende viajar à China na próxima semana se efetivado no cargo, acertou que apenas líderes ou senadores indicados por eles farão perguntas. A orientação é ser objetivo, pois as testemunhas já falaram na comissão especial.
– É um rito que deve ser respeitado, mas não tem muito para perguntar de novo. Vamos ouvir o que já foi falado na comissão – afirma o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO).
Já a base de Dilma alinhou a estratégia de atuação em encontro no Senado. Nada de pressa. Nomes da linha de frente da defesa da petista, como Gleisi Hoffmann (PT-PR), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), farão o debate mais acirrado com as testemunhas de acusação. Os demais senadores devem centrar os questionamentos para que a defesa reforce o argumento de que não houve crime de responsabilidade.
– Todas as perguntas necessárias para um debate tão sério serão feitas – assegura Paulo Paim (PT-RS).