Política

Após cassação

Sem foro privilegiado, Cunha tentará blindar família contra Moro

Inelegível até o início de 2027, ex-deputado travará batalha jurídica na tentativa de manter no STF os processos aos quais responde como réu

Guilherme Mazui / RBS Brasília

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Derrotado na tentativa de salvar o mandato de deputado federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tem uma prioridade definida: proteger a mulher e a filha. Para escudeiros do ex-presidente da Câmara, ele agirá nos próximos meses para blindar a família de eventuais condenações na Operação Lava-Jato. Na política, o peemedebista deve operar nos bastidores, uma vez que está inelegível até janeiro de 2027, quando terá 68 anos.

– Até existem casos de ressurreição, mas a cassação é uma morte política. Ele tem que se concentrar na defesa no Judiciário – afirma Carlos Marun (PMDB-MS).

A tendência é de que a batalha jurídica de Cunha fique concentrada na Justiça Federal do Paraná, sob ameaça da caneta do juiz Sergio Moro. Mulher do ex-deputado, a jornalista Cláudia Cruz é ré na Lava-Jato, enquanto a filha Danielle está na relação de investigados. Como perdeu o foro privilegiado, o peemedebista deve ver seus processos, em análise no Supremo Tribunal Federal (STF), serem remetidos ao magistrado paranaense.

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Réu em duas ações penais, denunciado em um inquérito e alvo de outras investigações, Cunha prefere manter os casos no STF, pois considera inevitável a condenação de primeira instância com Moro. Sua defesa deve formalizar o pedido, porém a Corte tem decisões recentes na contramão. Ele só ficará no Supremo em situações nas quais é investigado ou denunciado ao lado de pessoas com foro – não é o caso das ações em que é réu atualmente.

Aliados evitam falar abertamente, mas, nos bastidores, temem pelo futuro imediato do ex-parlamentar. Projetam, inclusive, a possibilidade da prisão de Cunha em futuras etapas da Lava-Jato. Sobre uma eventual delação, acreditam que a hipótese seria cogitada apenas para "salvar" a mulher e a filha, com a chance de o Ministério Público Federal dificultar um acordo.

– Ele passou brigando com o (procurador-geral da República Rodrigo) Janot. Se a delação do Marcelo Odebrecht não saiu até hoje, imagine a novela que seria para fechar a do Cunha – diz um ex-escudeiro.

Na Câmara e no Palácio do Planalto, a ordem é não tripudiar a fim de evitar provocações. Governistas creem, inclusive, que indicações de Cunha na máquina federal podem seguir nos cargos, buscando novos padrinhos. Tudo dependerá dos próximos passos do ex-deputado.

– Se ele delatar ou começar a vazar informações na imprensa para se vingar de colegas, todos vão virar as costas. Se ficar quieto, haverá solidariedade – projeta um parlamentar do centrão.

Influência na Câmara

Entre as bancadas do PMDB e dos partidos do centrão, que davam sustentação a Cunha, há divergência sobre sua influência dentro da Câmara que presidiu com mão de ferro por 15 meses. Deputados acreditam que ele terá condições de operar nos bastidores em defesa de interesses empresariais, como fazia quando era líder do PMDB. Essa força passa pela não fragmentação do centrão. Defensor do ex-presidente da Casa, Jovair Arantes (PTB-GO) trabalha para herdar o comando do bloco.

– Cunha é um homem com raízes profundas e muito trânsito. Não será surpresa se continuar mandando – destaca Jorginho Mello (PR-SC).

Antigos parceiros discordam. Desde maio, quando Cunha foi afastado pelo STF, seu poder sofreu um processo de erosão, acelerado com a renúncia à presidência da Câmara, em julho. Ele não conseguiu emplacar seu candidato na disputa pelo comando da Casa. Escolhido pelo centrão, Rogério Rosso (PSD-DF) foi derrotado por Rodrigo Maia (DEM-RJ). O mesmo ocorreu na bancada do PMDB. Chancelado por Cunha, Hugo Motta (PMDB-PB) optou por ficar de fora da disputa pela liderança com Baleia Rossi (PMDB-SP), nome de Michel Temer.

– Observa-se um esvaziamento de poder. Sem a caneta (de presidente), é difícil – comenta José Fogaça (PMDB-RS).

A situação de Cunha também é delicada em seu Estado. No Rio de Janeiro, a rejeição ao nome do ex-deputado é alta. A declaração de voto pró-cassação dada por Pedro Paulo (PMDB-RJ), candidato do PMDB à prefeitura do Rio de Janeiro, indica que Cunha não tem a proteção do diretório local do próprio partido.

– Ele sempre foi um deputado eleito porque tinha o apoio de muitos prefeitos, vereadores e dos evangélicos – diz um desafeto.




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