
A ex-presidente Dilma Rousseff afirmou, na noite desta sexta-feira, que o "golpe ainda não acabou".
– O segundo golpe que esse País pode sofrer é que impeçam Lula de ser candidato (em 2018) – disse a petista durante a abertura do 2º Encontro Nacional de Mulheres Eleitas pelo PT, em Brasília.
Dilma participou de uma mesa redonda sobre o papel da mulher na política.
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Para Dilma, há apenas duas hipóteses que fariam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não disputar as próximas eleições: uma seria não haver eleição direta e a outra seria a condenação na Justiça.
– Seja por que método for, nós, mulheres, temos que nos preparar. O golpe ainda não acabou – afirmou a ex-presidente.
Ela lembrou que Lula liderou as intenções de voto em todos os cenários na última pesquisa CNT/MDA.
A ex-presidente disse ainda que a Operação Lava-Jato é uma "operação excepcional" e, por conta disso, alguns consideram que possui "regras excepcionais", que muitas vezes vão contra a Constituição.
– Usam justiça do inimigo para cima do Lula. Ao invés de ser julgado, ele é considerado inimigo, então tem que ser destruído – declarou.
Lula é réu em cinco inquéritos na Justiça, três deles no âmbito da Operação Lava-Jato.
Dilma foi ovacionada pela plateia, formada por prefeitas, vice-prefeitas e vereadoras eleitas pelo partido em 2016. Ela também fez duras críticas ao governo do presidente Michel Temer.
– Temos que olhar e tentar impedir retrocessos – pediu às correligionárias.
A petista, que discursou durante cerca de 45 minutos, criticou as principais reformas do governo, como a previdenciária e trabalhista, ambas em tramitação no Congresso.
Ela também criticou a aprovação da Proposta de Emenda Constituição (PEC) que estabelece um limite para os gastos públicos, no ano passado. Segundo Dilma, congelar os gastos públicos por vinte anos é uma medida "eminentemente neoliberal que faz o absurdo do ponto de vista democrático, pois fere o direito fundamental do direito ao voto direto para a eleição presidencial".
– Se eu tiro das pessoas o direito de decidir onde vão achar que deve ser gasto o dinheiro por cinco eleições presidenciais, eu tiro o sentido de uma eleição (...) Em uma eleição a gente escolhe aquilo que achamos que deve ser prioridade do gasto. Se, em uma tacada só, acaba-se com cinco eleições, não é só um ataque do neoliberalismo, é um ataque que leva à redução dos processos democráticos – discursou.
Dilma avaliou que "a razão profunda do impeachment é enquadrar o país econômica, social e geopoliticamente". Ela considera que o seu pedido de afastamento foi uma reação dos neoliberais às políticas sociais que vinham sendo implantadas pelo governo petista nos últimos 13 anos.
– O golpe tinha por objetivo desregular tudo, deixar o mercado mandar em tudo e tirar os pobres de dentro do orçamento, daí a emenda da PEC do teto de gastos.
Para combater o que classificou como retrocessos do governo atual, Dilma disse que a "única grande arma é a democracia".
– Nós estamos diante de um processo onde não tem como fazer acordo por cima hoje no Brasil. É necessário acordo por baixo, a eleição – continuou.
Ela afirmou que o governo petista "não fez tudo", mas "mostrou que é possível fazer, mostrou um caminho" para combater a desigualdade social.
Na mesa redonda, também estavam a ex-ministra Eleonora Menicucci, a líder do PT no Senado, Gleisi Hoffmann (PR), e as deputadas Maria do Rosário (RS) e Benedita da Silva (RJ). Na plateia, estava presente outra ex-ministra de Dilma, Tereza Campello. No início do discurso, Dilma elogiou as participantes, que chamou de "excepcionais". Ela disse que tem "orgulho" da participação das mulheres no combate ao impeachment.
– Eu quero dizer que as mulheres não só tiveram papel de vanguarda, mas foram e constituíram a grande parcela que teve posição clara, firme e massiva em muitos dos atos que tiveram em todo Brasil (contra o impeachment). Eu agradeço o acolhimento – declarou.
Ela disse que com a participação das mulheres em seu governo ficou "evidenciado que as mulheres podem exercer os mais diferentes cargos".
*Estadão Conteúdo