
A ex-presidente Dilma Rousseff foi recebida na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, no início da noite desta quinta-feira, aos gritos de "guerreira brasileira" e sem sinal de hostilidade. Diante do plenário lotado de apoiadores, a ex-presidente falou sobre a participação das mulheres na democracia, voltou a dizer que foi vítima de "um golpe parlamentar", criticou as medidas adotadas pelo sucessor, Michel Temer (PMDB), e disse que a eleição de 2018, com Lula candidato, "é uma pedra no meio do caminho" do governo.
A convite da vereadora Sofia Cavedon, líder da bancada do PT, Dilma chegou ao local por volta das 19h30min. A decisão de Sofia de chamar a petista para dar uma conferência provocou divergências na Procuradoria da Mulher na Câmara – o órgão é presidido pela petista, mas tem participantes de outros partidos. A celeuma, no entanto, não chegou a causar constrangimento para a convidada. Vestida de vermelho e sorridente, Dilma recebeu presentes, uma camiseta "para andar de bicicleta" e posou para fotos e vídeos.
Nas galerias da Câmara, praticamente só havia mulheres, a maioria delas integrantes de entidades como o Movimento dos Sem Terra (MST), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), além de grupos de defesa dos direitos das mulheres, como Liga Brasileira de Lésbicas, Coletivo Feminino Plural, Movimento Nacional de Cidadãs Positivas, Ilê Mulher e Marcha Mundial de Mulheres.
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Depois das falas de boas-vindas de Sofia, da deputada estadual Manuela D'Ávila (PC do B) e da deputada federal Maria do Rosário (PT), Dilma começou agradecendo pela "recepção inesquecível". Em seguida, passou a falar sobre a sua deposição do poder, a partir "da perspectiva de gênero".
– Podemos contar o golpe por aí, porque a mídia usou esses estereótipos. Muitas vezes, eu era uma mulher dura no meio de homens meigos, como eu dizia. Em outros momentos, eu era uma mulher frágil que não deveria ir ao Senado enfrentar o momento decisivo do impeachment. Eles tocaram todas as notas. Não nos iludamos. É sempre assim quando se lança contra as mulheres todas as campanhas – afirmou, ovacionada.
Na sequência, declarou estar satisfeita por ter "ganhado a guerra da versão", ao se referir ao impeachment.
– Esse golpe parlamentar... por que golpe? Nós pelo menos ganhamos essa guerra da versão. A nossa é a versão da verdade. Houve golpe, porque houve o impeachment sem crime de responsabilidade. E por que era necessário dar um golpe parlamentar? Porque por quatro eleições nós derrotamos o programa neoliberal que queriam impor ao Brasil – afirmou.
Dilma passou, então, a criticar as medidas adotadas pelo atual governo, presidido por Michel Temer (PMDB), que era seu vice. Condenou a terceirização, repudiou a proposta de reforma da Previdência e disse que o Minha Casa Minha Vida se transformou em "Minha Mansão Minha Vida".
– O golpe foi dado para que se adotasse um programa que jamais passaria, de maneira alguma passaria, por voto popular – concluiu.
"Não podem querer ganhar a eleição no tapetão"
Aplaudida, usou parte do tempo para falar das eleições de 2018, que definiu como "um pedra no meio do caminho" dos seus adversários.
– Essa imensa pedra que está no meio do caminho cria toda uma série de grandes impasses políticos. Primeiro, porque, quando você faz pesquisa, não interessa o que A, B, C ou D acha de cada um dos concorrentes. O fato é que é inegável que quem ganha em qualquer pesquisa é Luiz Inácio Lula da Silva – disse.
Em meio a gritos de "Lula, Lula", a ex-presidente afirmou que os opositores farão de tudo para evitar a vitória de Lula e que há apenas "uma força capaz de impedir que os piores cenários se concretizem". Essa força, segundo ela, "é o povo brasileiro".
Ao final, fez um último pedido:
– Temos de ficar atentos, porque o golpe não acabou. Vamos transformar esse momento de dificuldades num momento de ampliação da consciência e da nossa capacidade de luta. Eles não podem querer ganhar a eleição no tapetão.