Política

Julgamento no TSE

Para aliados, depoimento de Odebrecht ajuda a blindar Temer

Apesar do otimismo, ainda é foco de preocupação no Planalto o fato de o delator ter confirmado que parte de R$ 150 milhões fornecidos à chapa Dilma-Temer ter sido paga por meio de caixa 2

Guilherme Mazui / RBS Brasília

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Ao TSE, Odebrecht afirmou que Temer (esq.) não teria participado de discussão sobre valores — que coube a Padilha (dir.)

Ao afirmar à Justiça Eleitoral que não discutiu valores de repasses para campanhas com o então vice-presidente Michel Temer, em 2014, Marcelo Odebrecht reforçou o discurso de aliados do peemedebista, que trabalham para blindá-lo na Lava-Jato. Por outro lado, o delator confirmou que parte de R$ 150 milhões fornecidos à chapa Dilma-Temer foi pago por meio de caixa 2, sendo que R$ 50 milhões corresponderiam a contrapartida por medida provisória que beneficiou a empreiteira.

Preso na Lava-Jato, Odebrecht depôs na quarta-feira, em Curitiba, ao ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Herman Benjamin, relator na Corte da ação que pede a cassação da chapa vencedora na corrida ao Planalto de 2014. Apesar da fala ser sigilosa, ocorreu uma série de vazamentos sobre as declarações do executivo.

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Lideranças políticas e jurídicas tentam analisar os impactos do depoimento, que lançou para o atual ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, a responsabilidade pela negociação de uma contribuição de R$ 10 milhões da empreiteira a campanhas do grupo político dele e de Temer. O empresário confirmou que participou no Palácio do Jaburu, em 2014, de um jantar com Padilha e Temer, na linha da delação de Claudio Melo Filho, ex-diretor da empreiteira, presente ao encontro. Temer teria pedido auxílio financeiro, mas deixou o jantar na hora de discutir valores, segundo Odebrecht.

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O teor vazado do depoimento foi comemorado por aliados de Temer. O Planalto destacou que a fala confirmou o que o presidente diz "há meses", com o pedido apenas de doações legais ao PMDB. No governo, há expectativa da separação das contas de Dilma e Temer no TSE, porém a estratégia se concentra em postergar o julgamento, diante do receio de decisão pela cassação da chapa depois de Odebrecht admitir caixa 2.

Para juristas que acompanham a ação no TSE e a Lava-Jato, o empreiteiro reforçou a tendência de que Padilha seja investigado no Supremo Tribunal Federal (STF), junto com José Yunes e Lúcio Funaro. Os três são citados por Melo Filho no episódio que trata das contribuições ao PMDB.

Dentro da força-tarefa da Lava-Jato, circula avaliação de que Padilha negociou com aval de Temer, que saberia valores e origem do dinheiro. Nesta quinta-feira, Temer ainda ganhou uma nova frente de preocupação, com a autorização da Justiça Federal de Brasília do envio de 19 perguntas feitas pela defesa do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). No questionário, ele levanta questões que vinculam Temer e o ministro Moreira Franco a uma investigação na Caixa.

Sobre o impacto do depoimento de Odebrecht no PT, as projeções atingiram a imagem sustentada pelo partido de que a ex-presidente Dilma Rousseff não sabia do esquema de corrupção na Petrobras. O empresário teria afirmado que também não discutiu diretamente com a petista as cifras de doações mas ressaltou que ela estaria ciente dos pedidos de dinheiro, da origem duvidosa dos valores e de pagamentos por meio de caixa 2. A reação mais enérgica partiu de Dilma. Em nota, ela classificou como "mentirosa" a informação de que teria pedido recursos a Odebrecht.

O que disse Marcelo Odebrecht

- Relatou ter se encontrado em um jantar com Michel Temer no Palácio do Jaburu. Negou ter tratado de valores com Temer – essa definição teria ficado com Eliseu Padilha e Claudio Melo Filho.

- Citou ter se encontrado diversas com Dilma Rousseff, mas que as contribuições para campanhas eleitorais seriam tratadas com o ex-ministro Guido Mantega.

- Indicou pagamento de R$ 150 milhões para a chapa Dilma-Temer e referiu que a maior parte seriam caixa 2.

O que disse Dilma Rousseff

"É mentirosa a informação de que Dilma Rousseff teria pedido recursos ao senhor Marcelo Odebrecht ou a quaisquer empresários, ou mesmo autorizado pagamentos a prestadores de serviços fora do país, ou por meio de caixa dois. (...) Também não é verdade que Dilma Rousseff tenha indicado o ex-ministro Guido Mantega como seu representante."

O que disse Michel Temer

"O depoimento do empresário Marcelo Odebrecht confirmou aquilo que o presidente Michel Temer vem dizendo há meses. Houve o jantar, mas não falaram de valores durante o encontro e a empresa deu auxílio financeiro a campanhas do PMDB."

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