Convocada pelas centrais sindicais em protesto às reformas trabalhista e da Previdência propostas pelo governo Michel Temer, a greve geral paralisou grande parte do país na sexta-feira – em parte por adesão, em parte por falta de opção de transporte para quem queria ir ao trabalho. Desde as primeiras horas da manhã, as manifestações se espalharam pelas capitais e cidades do Interior. Locais com grande tradição de mobilização política no país, como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Curitiba e Porto Alegre, vivenciaram passeatas de peso. Em alguns casos, encerradas com confusão.
Os manifestantes sustentam que os os projetos apresentados pelo governo federal – como as reformas trabalhista e previdenciária – retiram direitos dos trabalhadores e dificultam o acesso à aposentadoria. Piquetes conduzidos por sindicatos, movimentos sociais e partidos opositores a Temer interromperam o tráfego e, em algumas cidades, como no Rio de Janeiro, promoveram quebra-quebra.
As passeatas bloquearam estradas, ruas e avenidas em diferentes regiões e paralisaram setores como transporte público, comércio e escolas. Só no Rio Grande do Sul, 106 colégios privados não tiveram aulas. Das 99 escolas da rede municipal de ensino, apenas cinco funcionaram parcialmente. Em muitos Estados, a Polícia Militar (PM) interviu e houve confrontos.
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Porto Alegre amanheceu com as garagens de ônibus municipais bloqueadas pelos grevistas e veículos foram apedrejados. Os coletivos não circularam na cidade, e as lotações tiveram a autorização de transportar passageiros de pé. Muita gente foi a pé até o serviço. Também ficou fora de operação o trensurb na Região Metropolitana.
Os grevistas realizaram uma série de bloqueios em vias de Porto Alegre, da Região Metropolitana e do interior do Estado. Foram registrados ao menos 25 pontos com interrupções em distintos horários. Uma delas ocorreu na ponte do Guaíba, onde manifestantes atearam fogo em pneus para impedir a passagem de motoristas no sentido Capital-Interior. Piquetes também foram montados em locais como a BR-116, em Canoas, Caxias do Sul e São Lourenço do Sul, e a BR-392, em Rio Grande. A Ponte Internacional em Uruguaiana, que separa Brasil e Argentina, também foi bloqueada por manifestantes.
Com os piquetes em estradas, saídas de ônibus intermunicipais tiveram de ser canceladas na rodoviária de Porto Alegre. A administração da estação estima que metade das viagens sofreram impactos. Na madrugada, a saída do terminal chegou a ser bloqueada, e a Brigada Militar (BM) desobstruiu o local. Na Capital, lojas, escolas e agências bancárias não abriram as portas.
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Durante a tarde, sindicalistas organizaram uma caminhada pelo centro da cidade. No início da noite, os manifestantes e a polícia entraram em confronto.
Quebra-quebra e atropelamentos país afora
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Diversos incidentes foram registrados Brasil afora. Os mais significativos aconteceram no Rio de Janeiro, que registrou muita pancadaria. Durante protesto no aeroporto Santos Dumont, pela manhã, ocorreu troca de socos e chutes no saguão principal, junto ao setor do check-in.
A confusão só acabou com a chegada de agentes da Polícia Federal. Do lado de fora do aeroporto, a polícia reprimiu o protesto com balas de borracha na via que dá acesso ao Santos Dumont. Pelo menos um estudante foi atingido. À noite, manifestantes fecharam vias, e a Tropa de Chope interviu com bombas de efeito moral, o que culminou em confronto. Pelo menos quatro ônibus foram incendiados.
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Em São Paulo, interrupções de ruas e rodovias provocaram a prisão de 16 pessoas. Ônibus, metrô e trens também foram afetados. A segurança foi reforçada. No bloqueio da Avenida Paulista, até um grupo de freis franciscanos participou. O prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), chamou de "vagabundos", "preguiçosos" e "pelegos" os sindicalistas que trancaram as vias. No interior paulista, índios que apoiam a greve geral interromperam uma estrada em Jaraguá e pararam motoristas a força. Fotos tiradas mostram flechas apontadas contra o rosto de caminhoneiros, para força-los a interromper o tráfego de veículos.
Florianópolis e as principais cidades catarinenses ficaram sem ônibus em decorrência dos piquetes grevistas. Em alguns pontos, ocorreu pancadaria entre grevistas e pessoas que desejavam ir ao trabalho.
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Em Brasília, cerca de mil manifestantes reuniram-se na Esplanada dos Ministérios e protestaram em frente ao Congresso Nacional.
Ocorreram também atropelamentos, protagonizados por motoristas inconformados com bloqueios. Em Esteio, o condutor de uma caminhonete avançou pela calçada e furou a barreira formada por manifestantes, por volta das 9h. Duas pessoas tentaram impedir que o veículo prosseguisse e tiveram ferimentos leves.
Em Pernambuco, o motorista de uma Kombi atropelou e matou um motociclista ao desviar de um bloqueio realizado por manifestantes que participam da greve geral na manhã de sexta. O acidente ocorreu na BR-101 Sul, em Cabo de Santo Agostinho, próximo ao porto de Suape.
Outro atropelamento aconteceu em São José dos Campos (SP). Duas pessoas ficaram feridas após um motorista atropelar manifestantes durante um ato na marginal da Via Dutra. O atropelador foi perseguido e preso em flagrante.O ministro da Justiça, Omar Serraglio, criticou a greve geral e disse que se trata de "uma baderna generalizada".