Líder do maior partido do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) declarou que, se continuar como está, "o governo vai cair para um lado e o PMDB para o outro". Em conversa reservada com jornalistas, nesta terça-feira, Renan destacou que "o governo é temporário", diferentemente da legenda, "que já prestou relevantes serviços para o país e vai continuar prestando".
– Com o governo do deputado cassado Eduardo Cunha eu já rompi, vou aguardar o próximo – ironizou.
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Renan voltou a criticar as principais medidas econômicas defendidas pelo governo.
– O PMDB vai ter de patrocinar as reformas vindas do Planalto sem discutir? Se continuar assim, vai cair o governo para um lado e o PMDB para o outro. É uma questão política, não é pessoal – reforçou.
Renan considera que a votação da reforma da Previdência no Senado só deve ocorrer no segundo semestre. "Se chegar", ponderou, considerando que a matéria não seja nem sequer aprovada na Câmara.
Apesar de ter subido o tom contra o governo nas últimas semanas, Renan disse que a temperatura está "normal".
– É quente assim mesmo – brincou.
Ele afirmou que desde que o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) assumiu, no ano passado, deixou claro que "não dava para diminuir a inflação agravando a recessão" e que está apenas mantendo a sua coerência.
– Não se trata de quantos senadores estão com Renan, e sim quantos apoiam as divergências sobre as medidas do governo.
Ele voltou a comparar a atual gestão com o período em que a seleção brasileira era treinada por Dunga.
– O Brasil está cobrando que o governo parece mal escalado. O governo como está parece a seleção do Dunga. Queremos a seleção do Tite para dar a escalação do País – comentou, referindo-se ao atual técnico.
Renan avalia que "o governo está errando ao aumentar impostos e ao reonerar".
– Não precisa mudar o técnico, nem o time, apenas aproveitar melhor os que estão aí – continuou.
Na noite desta terça-feira, Renan organiza um jantar na casa da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) com a bancada do PMDB em busca de apoio no embate que trava com o Palácio do Planalto contra a condução das reformas econômicas. Segundo o peemedebista, o objetivo será "construir convergências" com os parlamentares.
– A senadora Kátia costuma servir aratu. Vai ser maravilhoso – disse o líder da bancada sobre o encontro.
Convergência com discurso de Lula
Renan admitiu "convergência" no discurso com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Preocupado com a sua reeleição e a de seu filho, atual governador de Alagoas, Renan estaria articulando uma aliança com Lula.
– Para que? Isso só em 2018. Porque há uma convergência no discurso? Imagina se eu estou preocupado com candidatura, eleição – declarou.
O discurso de Renan, que tem feito duras críticas à condução econômica do governo de Michel Temer, tem sido apontado como mais alinhado ao de Lula e da oposição.
– Será que o Michel acha que meu discurso está dessintonizado com o dele? Eu não sei, ele nunca me disse isso – rebateu Renan.
O parlamentar afirmou que "sempre" conversa com Temer sobre suas posições em relação à política econômica do governo. Renan afirmou ainda não ter "absolutamente nenhuma preocupação" com a próxima eleição.
– O que me preocupa é a necessidade de dar rumo à economia, ao governo, é isso que está na ordem do dia, não a eleição.
Renan declarou ainda que o seu sentimento sobre o assunto é de que "conversar não arranca pedaço".
Ele ponderou, contudo, que não o vê Lula desde o velório da ex-primeira-dama Marisa Letícia, no início de fevereiro.
*Estadão Conteúdo