
A um ano da campanha eleitoral de 2018, a tradicional troca de provocações entre os postulantes ao Planalto ganha componentes perigosos: agressões aos candidatos e brigas entre militantes. Depois de o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) receberem ovadas, simpatizantes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e dos movimentos Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua brigaram durante visita do petista a Salvador (BA), na quinta-feira. No sábado, o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), foi o mais recente alvo de arremesso de ovo por manifestantes durante caminhada pelo centro da capital, mas escapou sem ser atingido.
Na confusão durante a chegada de Lula ao estádio da Fonte Nova, pelo menos cinco pessoas foram detidas pela Polícia Militar baiana. Cerca de 30 ativistas anti-PT seguravam um boneco gigante do ex-presidente vestido de presidiário, conhecido como Pixuleco. Militantes petistas avançaram sobre o grupo e destruíram o boneco.
Leia mais:
João Doria é atingido por ovo em Salvador
Bolsonaro é atingido por ovo em cafeteria no interior de SP
PM dispara tiros para apartar confusão durante visita de Lula a Salvador
Para apartar a briga, a PM deu três tiros para o alto. Testemunhas disseram à polícia que um manifestante anti-Lula também teria efetuado disparos. Ele foi identificado como sendo o policial civil Adjalbas Pereira. À imprensa, alegou que "acompanhava e protegia" um amigo, o blogueiro Marcelo Vasconcelos. Detido e encaminhado a uma delegacia, onde prestou depoimento antes de ser liberado, apresentou versão diferente: estaria indo ao supermercado quando passou pelo protesto. Filiado ao partido de Bolsonaro, Pereira tem publicações nas redes sociais com críticas a Lula e pedidos de intervenção militar.

Tendência é de piora em 2018, dizem especialistas
Para o sociólogo Leôncio Martins Rodrigues Netto, professor aposentado do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a escalada violenta na pré-campanha à Presidência é fruto do desprestígio da classe política e do destempero dos próprios pré-candidatos. Na sexta-feira, durante viagem a Fortaleza, Doria chamou Lula de "sem vergonha", "corrupto", "covarde" e "preguiçoso". Antes, Lula disse que Doria "saiu do nada" somente para atacá-lo. O petista já havia chamado Bolsonaro de "fascista" e dito que Doria era um "coxinha" que "não trabalha".
– A população está irritada. Rejeita e despreza a classe política. Isso cresce quando os próprios candidatos passam a fazer ataques mais pesados. Até onde vai chegar, não se sabe. A tendência é piorar com a proximidade das eleições – comenta Rodrigues Netto.
No mesmo dia da visita de Lula a Salvador, Bolsonaro foi atingido por uma ovada em uma cafeteria de Ribeirão Preto (SP). O pré-candidato à Presidência foi surpreendido pela estudante Alana Gabrielle de Oliveira, 22 anos, que o chamou de homofóbico e esmagou-lhe um ovo no peito. A filiada ao PC do B diz não ter premeditado o ataque.
– Quando soube que se tratava do Bolsonaro, rapidamente conseguimos os ovos em um mercadinho ali perto e distribuímos – relatou Alana ao site G1.
Na avaliação do cientista político Bruno Lima Rocha, da Unisinos, as ovadas são fruto da polarização política no Brasil, que vem se acentuando desde os protestos de 2013. Ele as classifica como "reação ao discurso de ódio" no país.
– Vai piorar muito em 2018, porque se rompeu uma fronteira de convivência. A reação será mais forte à medida que esse discurso conservador e que propostas antipopulares circularem com mais veemência. O país escancarou a tampa do bueiro do que de pior existe em termos de conservadorismo político e comportamental – avalia Rocha.
Na semana passada, o alvo de ovada havia sido João Doria. O caso também ocorreu em Salvador, pouco antes de o prefeito receber o título de cidadão soteropolitano. Em frente à Câmara de Vereadores, sindicalistas, estudantes e grupos como o Levante da Juventude Popular protestavam. O produtor cultural Eucimar Freitas foi um dos que arremessou ovos contra o tucano.
– Deu até pena do ovo. Era novinho – ironizou Freitas.
Gustavo Grohmann, professor de Ciência Política da UFRGS, considera o recurso à ovada inaceitável e perigoso:
– Esse nível de agressão não contribui em absolutamente nada para a democracia. Quem joga ovos é um idiota, e devemos colocar os idiotas no seu devido lugar. É diferente de vaiar ou de gritar palavras de ordem, por exemplo, porque pode descambar para coisas piores. Daqui a pouco alguém vai achar que não tem problema jogar pedra, e isso é inadmissível.