
De olho nos 308 votos necessários para a aprovação da reforma da Previdência, o Palácio do Planalto admite relevar as traições de deputados da base que votaram contra o presidente Michel Temer nesta semana. Vice-líder do governo e responsável pelas tabelas que monitoram as votações, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) defende que "não é hora de brigar com ninguém".
Segundo ele, o objetivo é um só: recompor a base para aprovar as mudanças no sistema previdenciário.
– Às vezes o cara tem um problema na base dele, às vezes tem medo de votar (a favor de Temer) ou tem a opinião dele. Não está na hora de tirar cargo de ninguém, temos que recompor a nossa base – argumenta Mansur.
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O parlamentar é responsável pelo levantamento sobre a votação na Câmara da denúncia envolvendo Temer. O material será entregue ao presidente na próxima segunda (7). A estimativa, hoje, é de que em torno de 100 parlamentares da base não votaram a favor de Temer ou não compareceram à sessão.
Apesar do discurso de cautela, o Planalto sofre pressão para boicotar traidores e já executou ao menos uma exoneração por represália. Trata-se do superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Santa Catarina, Vissilar Pretto. O engenheiro é afilhado político do deputado Jorginho Mello (PR-SC), que votou contra Temer.
A principal cobrança por punição de infiéis vem de integrantes do chamado "Centrão" – que reúne partidos como PP, PTB, PSD, PRB, PR e Solidariedade. A tese é de que vantagens deveriam ser garantidas apenas a parlamentares que se expuseram defendendo Temer durante a votação.
– Você deve governar com quem é leal – dispara o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson.
O Centrão quer ganhar mais cargos na administração federal e mira, principalmente, nos quatro ministérios que estão sob comando do PSDB – o partido mais rachado sobre a denúncia. O líder tucano, Ricardo Tripoli (SP), orientou a bancada a votar contra Temer. Dos 43 parlamentares da sigla presentes na sessão, 22 votaram a favor de Temer e 21, contra.
Um dos parlamentares mais próximos de Temer, o gaúcho Darcísio Perondi (PMDB) admite que os líderes de partidos ganharam a missão de conversar com os infiéis, mas também entende que não é hora de criar inimigos.
– Neste primeiro mês vai ser mais suave, vamos pegar leve – explica.
Segundo Perondi, só haverá represália imediata a deputados que "não têm solução", ou seja, aqueles que descartam apoiar o governo na reforma da Previdência.