Porto Alegre

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O que será o amanhã?

Letícia Duarte

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Jefferson Botega / Agencia RBS

Como era mesmo a história daquele filme a que você assistiu na semana passada? E aquele livro que você terminou de ler no último mês? E o novo número de telefone da sua mãe, que trocou no início do ano? E o candidato a deputado em quem você votou na eleição passada?

Caso esteja difícil de lembrar, a culpa pode ser do excesso de informação.

Nessa era de culto à velocidade, em que tudo está acessível ao toque de um clique, o neurocientista português António Damásio adverte que nosso cérebro está correndo riscos. Assim como o barulho pode ser danoso aos ouvidos e atrapalhar a concentração, a sobrecarga de informações produziria o mesmo efeito de ruído intelectual.

O maior problema seriam as distrações constantes, provocadas por mensagens que as pessoas recebem nos celulares, na caixa de e-mails, que roubam nosso foco. Uma das consequências seria o comprometimento da memória.

- Não é possível funcionar normalmente quando se está a ser bombardeado com informação.  Para absorver um problema, para ter ideia dele e poder imaginar soluções, é preciso ter atenção contínua, a atenção não pode ser constantemente interrompida por novos estímulos. É preciso também que haja essa atenção contínua, porque sem isso não é possível haver memória, a memória não funciona bem quando há interrupções, e tudo isso se reflete portanto na qualidade, no comportamento, na maneira como conseguimos responder às situações em que nos encontramos - alertou o pesquisador, em entrevista à revista Fronteiras do Pensamento, em abril de 2013.

A longo prazo, o neurocientista acredita que o cérebro terá de se adaptar para responder aos estímulos fragmentários, mas pondera que a sociedade deveria se precaver, agindo de modo mais inteligente. Até porque os riscos não se restringem ao excesso de informação. O aumento da exposição a situações de estresse na vida contemporânea também deixa marcas no cérebro. Pesquisa coordenada pela psicóloga Rosa Maria Martins de Almeida, professora do departamento de psicologia na UFRGS, comprovou que a exposição a um minuto e meio de vídeos com cenas desagradáveis, como violência e morte, já são suficientes para afetar a memória e a capacidade de atenção dos sujeitos.

Rosa conta que o objetivo inicial da pesquisa era mostrar estímulos agradáveis para melhorar a cognição e a atenção do público, mas os estudos não demonstraram o mesmo resultado.

- O que é agradável para um não necessariamente é agradável para outro. Mas o que nos é desagradável é unânime. Os resultados sugerem que estímulos visuais aversivos podem aumentar a ansiedade e diminuir a atenção e o desempenho da memória de trabalho - observa.

Apesar da impressão de que estamos todos mais angustiados com a corrida contra o tempo, a psiquiatra Gisele Manfro, professora da UFRGS e coordenadora do Programa de  Atendimento dos Transtornos de Ansiedade do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, diz que as pesquisas são controversas sobre o aumento da ansiedade na era contemporânea.

- Não sei se a ansiedade é maior hoje do que era para os homens da caverna, quando tinham que matar para comer. A diferença é que hoje temos mais instrumentos de diagnóstico - pondera, salientando que a estimativa é de que 20% da população hoje sofra de transtornos de ansiedade.

Na corrida contra o tempo, acabamos apreendidos pela síndrome do Coelho de Alice, correndo para lá e para cá com um relógio na mão.
Afinal, quando a bússola é um relógio, o trajeto será sempre em círculos.

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