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A notícia do torpedeamento do Macau chegou ao país somente cinco dias depois, no dia 23 de outubro. Não fora a primeira agressão tedesca. Em abril, o afundamento do navio Paraná levara ao rompimento de relações diplomáticas do Brasil com a Alemanha. Em retaliação, os submarinos germânicos afundaram o Tijuca, em maio, e o vapor Lapa, em julho.
A indignação que se seguiu ao afundamento do Macau foi diferente. Revoltados, populares saíram às ruas nas principais capitais do país, em protesto contra os ataques aos vapores nacionais - embora o Macau fosse, na realidade, um dos 45 navios alemães aprisionados pelo Brasil como indenização após o rompimento com a Alemanha. No Rio de Janeiro, armazéns, fábricas, restaurantes e jornais de empresários germânicos foram vandalizados e saqueados. A pressão popular levaria o presidente Wenceslau Braz a declarar guerra à Alemanha, em 25 de outubro de 1917.
Em Porto Alegre, passeatas saudaram o Exército, a imprensa, o governo do Estado e os aliados. Temendo manifestações violentas, a polícia gaúcha proibiu os protestos. Mas, desacatando a ordem oficial, no dia 30, um grupo de 300 acadêmicos e populares partiu em caminhada cívica pela Capital. Com cartazes irreverentes e frases contra a polícia, os manifestantes marcharam silenciosamente, cada um com uma rolha na boca. À frente do grupo, uma carroça puxada por um burro funcionava como espécie de carro alegórico, onde iam dois dos líderes do movimento, os acadêmicos Aparício Torelly e Athos Ferreira.
Após percorrer as ruas General Vitorino, Marechal Floriano Peixoto, Sete de Setembro e João Manoel, o grupo chegou à Andradas, onde Torelly fez um discurso silencioso, por meio de mímica, arrancando aplausos dos populares. Em seguida, na Duque de Caxias, na quadra entre a Marechal Floriano e a Praça Marechal Deodoro, a cavalaria foi acionada, dispersando o grupo. Ainda a bordo da carroça, Torelly e Ferreira não conseguiram escapar e acabaram levados à delegacia, sendo liberados horas depois.
Nascido em Rio Grande, em 29 de janeiro de 1895, Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly cursava Medicina em 1917. Mais tarde, desistiria da faculdade, passando a dedicar-se às letras. Pioneiro no humorismo político no país, Aporelly - como gostava de ser chamado - autoproclamaria-se, anos depois, o "Barão de Itararé". Jornalista e escritor, autor de máximas como "de onde menos se espera, daí é que não sai nada", foi declarado opositor de Getúlio Vargas, que conhecera nos tempos de colégio, em Porto Alegre.
Na Revolução de 1930, Vargas partiu de trem rumo ao Rio, com o objetivo de tomar o poder. Na imprensa nacional, comentava-se que, no município paranaense de Santana do Itararé, divisa com São Paulo, haveria um embate entre as tropas fiéis a Washington Luís e as da Aliança Liberal, de Vargas. Mas, antes do confronto, um acordo estabeleceu que uma junta governativa assumiria o poder no Rio, evitando assim a batalha de Itararé. Apporelly ironizou o episódio, usando-o para justificar o título de "barão". "Fizeram acordos, (...) e eu fiquei chupando o dedo. Foi então que resolvi conceder a mim mesmo uma carta de nobreza. Se fosse esperar que alguém me reconhecesse o mérito, não arranjava nada. Então, passei a Barão de Itararé, em homenagem à batalha que não houve."