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A guerra já fazia vítimas há três anos na Europa quando o Brasil aderiu à aliança liderada por Inglaterra, França e Rússia. O estopim para a entrada de um país sem grande estrutura bélica no conflito foi o afundamento do navio brasileiro Macau, no dia 18 de outubro de 1917.
Naquele dia, às 17h25min, os 111,5 metros de comprimento do Macau deslizavam em águas europeias com uma valiosa carga de suprimentos para a França. Durante a travessia do Atlântico, o vapor não havia cruzado com nenhuma outra embarcação e fizera até ali viagem tranquila.
Para os alemães, que lutavam contra ingleses e franceses, afundar os navios que tentassem furar o bloqueio marítimo era questão vital. Após avistar o Macau, o comandante do submarino alemão U-93, Helmuth Gerlach, ordenou o ataque com o lançamento de um torpedo.
No vapor, o segundo piloto Raymundo Bandeira D'Assumpção descia a escada do passadiço em direção ao refeitório. De repente, o navio estremeceu com a explosão. Desacordado, D'Assumpção foi jogado sobre o convés, conforme relataria posteriormente, em carta passada de geração em geração na família e hoje em poder do seu neto, o consultor de investimentos paulista Alexandre Bandeira, 41 anos.
Segundos após a explosão, o, comandante do Macau, Saturnino Furtado de Mendonça, iniciou o salvamento da equipagem, conforme narrou D'Assumpção em sua carta. Ao retomar os sentidos, o segundo piloto percebeu que os demais tripulantes já estavam alojados nos barcos salva-vidas. Ainda a bordo do vapor, prestes a desaparecer nas águas, estavam apenas ele e Macau, o cachorro adotado pelos marujos como mascote e batizado com o mesmo nome do navio.
Com o cão em seu colo, o segundo piloto jogou-se do convés sobre uma das baleeiras, amarrada ao casco da embarcação. Na descida de vários metros de altura, sofreu uma forte contusão no pé direito.
Em entrevista a um jornal carioca, o farmacêutico de bordo, Alípio Soares Ribeiro, revelaria posteriomente o heroísmo do cãozinho Macau. Levado a uma baleeira, ele nadou de volta em direção ao navio e, latindo sem parar, só deixou o navio após acordar Raymundo Bandeira D'Assumpção - e assim salvar a sua vida. Em retribuição, mesmo ferido, o segundo piloto carregou-o para a baleeira.
O comandante Saturnino e o despenseiro do navio, Arlindo Dias dos Santos foram levados para o interior do U-93 (os submarinos alemães eram nomeados precedidos da letra U como abreviatura do termo Unterseeboot - literalmente "barco debaixo-de-água"). Com os dois brasileiros a bordo, o submarino afastou-se das embarcações salva-vidas. "Antes de desaparecer, não ocultando a comoção de que se achava possuído, o comandante nos fez um significativo gesto de adeus", contaria o piloto Pedro de Moraes, na volta ao Brasil.
O comandante e o despenseiro jamais seriam vistos outra vez. Seu desaparecimento incendiou a indignação nacional, apressando a decisão do Brasil de engajar-se efetivamente no conflito.