Estou ainda na cama quando toca o celular. Somos do tempo em que se telefonava. Eu e ela. Ainda nos telefonamos. Ela e eu. De uns tempos para cá, temos nos ligado cada vez mais e temos, cada vez mais, pensado e debatido sobre lugares de vulnerabilidade. A vulnerabilidade é um pensamento da carne, por isso a urgência. Minha amiga é bancária e muitas vezes me chamou para os passeios de domingo. Nunca fui. Agora ela me telefona para contar sobre o plano de aposentadoria compulsória e o fechamento de não sei quantas mil agências. Respondo que me importo, mas que não posso sofrer por ela. Desligamos. Sou uma senhora precavida. Já nasci aposentada. Sou uma amiga vingativa. Não aceito choro de quem pediu para apanhar.
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