Com o fim da TV analógica, previsto para ocorrer em 2018, fica aberto um caminho na transmissão de telecomunicações que o governo federal decidiu pavimentar com mais acessos para a internet móvel. Há, porém, um revés nessa estrada: a faixa de 700 MHz (conjunto de frequências de 698 MHz a 806 MHz), que vai ser leiloada para a internet 4G, é próxima à usada pela televisão digital - o que pode gerar interferência de um serviço no outro.
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O problema gerou um embate entre o setor de radiodifusão e as operadoras de telefonia, ameaçando o leilão da banda larga móvel de quarta geração previsto para setembro e que pode render até R$ 8 bilhões para os cofres públicos. A polêmica se estende desde fevereiro, quando a Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) fez testes para medir interferências e concluiu que elas podem cortar o sinal da TV e do 4G.
Anatel garante solução técnica antes de leilão
Para evitar esses obstáculos, seria necessária a adoção de filtros nos receptores, redirecionamento de antenas e outras técnicas. Sem essas adaptações, haveria prejuízos tanto na recepção dos televisores quanto no serviço de internet móvel. O presidente da SET, Olímpio José Franco, considera que a Anatel não garantiu transmissões sem interferências.
Outros testes, encomendados pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), indicam que é possível fazer a rede 4G e o sistema digital de TV conviverem em harmonia.
- Os estudos apontaram que, mesmo nas eventuais situações desfavoráveis, a convivência entre os dois sistemas é sempre possível, desde que aplicadas técnicas de mitigação - garante o diretor do grupo setorial de telecomunicações da Abinee, Luciano Cardim.
A Anatel acompanhou os testes e garante que o leilão não ocorrerá enquanto as dificuldades técnicas não forem superadas.
Filtros não dão garantia de solução
Para evitar complicações, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprovou o chamado "regulamento de interferência", um documento que estabelece as condições técnicas para a convivência dos dois serviços.
O Tribunal de Contas da União (TCU) está analisando as estimativas de valores propostos pela agência e, quando abrir o regulamento para consulta pública, deve divulgar os custos para solucionar eventuais interferências causadas pelo 4G. Serão as empresas vencedoras do leilão as responsáveis por financiar a compra dos equipamentos necessários. O governo garante que será criada uma entidade para reunir as empresas responsáveis.
A solução usada por outros países para impedir interferências é a instalação de filtros nos aparelhos, antenas e estações de transmissão de celular.
No Brasil, ainda não foi definido como isso será feito. Para decidir como funcionarão os filtros, o governo afirma que é preciso fazer mais testes.
Mesmo com o uso de equipamentos para evitar o problema, representantes da indústria de telecomunicações afirmam que nenhum serviço tem garantia de funcionamento pleno.
- A interferência é algo que existe em qualquer serviço que utilize radiofrequência. Ela está no ar: não estamos vendo, mas acontece o tempo todo. O que se tem de fazer é operar em condições tais que as técnicas possam ser aplicadas para resolver esses problemas - afirma o diretor de relações governamentais da Qualcomm, Francisco Giacomini Soares.
Para a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), o leilão só deveria ser realizado depois da conclusão de todos os testes de convivência entre os serviços.
Tecnologia
Nova faixa para 4G pode interferir no sinal da TV digital
Testes realizados pela Sociedade Brasileira de Engenharia e Televisão apontam que uma pode cortar o sinal da outra
Guilherme Justino
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