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As pessoas sabem que não devem enviar mensagens enquanto dirigem. A maioria admite que é um ato perigoso e inaceitável. No entanto, muitos continuam a fazê-lo, não conseguem resistir. Assim, especialistas em trânsito e autoridades demandam uma solução tecnológica que impeça os motoristas de mandarem mensagens enquanto conduzem um veículo.
É aí que Scott Tibbitts entra em cena. Engenheiro químico proprietário de uma empresa que produziu motores e estações de ancoragem para a Nasa (agência espacial dos EUA), Tibbitts, 57 anos, passou os últimos cinco anos procurando uma forma inovadora para bloquear a entrada e a saída de mensagens nos celulares e evitar que o condutor receba chamadas.
Ele não é nenhum inventor maluco ou alguém com um implacável senso de autopromoção agindo por conta própria. Para reforçar a importância de sua solução, Tibbitts fez uma parceria com dois pesos pesados: a American Family Insurance (seguradora americana), que resolveu investir em tecnologia, e, mais importante ainda, com a Sprint (operadora de telecomunicações americana), que permitiu que a companhia de Tibbitts, a Katasi, usasse sua rede para bloquear os textos durante testes.
Aparelhos de usuários devem ser cadastrados
Tibbitts logo identificou uma barreira na engenharia do projeto: para desligar o telefone de um motorista, primeiro você precisa saber quem está dirigindo. Em janeiro deste ano, em um estacionamento em Boulder, no Estado de Colorado (EUA), Tibbitts foi para o banco de trás de um automóvel para mostrar sua solução. O carro pertencia a seu filho Ryan, 20 anos, que estava sentado no banco do motorista. Ryan alcançou uma pequena caixa quadrada que tinha sido ligada a uma conexão sob a coluna de direção - é a "telemática", que combina telecomunicações e mobilidade.
Assim, Tibbitts conseguiu desligar o telefone (entenda o processo abaixo). Na sede da Katasi, um algoritmo compara os dados que chegaram com outras informações, como a localização dos telefones pertencentes a todas as pessoas que dirigem o carro e o ponto de partida do deslocamento. Se começa numa escola, e os telefones do pai e da mãe estão no trabalho, o condutor é identificado: o filho está dirigindo.
Mas o que acontece quando marido e mulher compartilham um carro e os servidores dizem que ambos estão no veículo ao mesmo tempo com seus celulares? Qual deles está dirigindo? Geralmente, a tecnologia adota o pressuposto do bom senso: o passageiro irá impedir o condutor de mandar mensagens. O sistema também é capaz de bloquear chamadas, e-mails e outros dados.
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Em busca de empresas de telefonia
Há tempo, autoridades e especialistas sonham com uma "solução em rede" para o problema da distração na direção. Para tocar o projeto, o engenheiro Scott Tibbitts precisava de mais um ingrediente fundamental: empresas de telecomunicações como parceiras.
O ideal seria que uma operadora de celular pudesse desligar o telefone do motorista automaticamente, pela rede, sem que o condutor escolhesse participar ou não (no sistema da Katasi, a opção pré-escolhida é a de bloquear as mensagens). Se isso fosse possível, as redes poderiam enviar automaticamente mensagens informando que "o usuário não pode ver o recado porque está dirigindo".
Risco de processo assusta companhias
Com a tecnologia da Katasi desenvolvida, a questão principal era quem iria comprar o serviço. Para determinar o quanto investir, a operadora de telefonia Sprint tinha de saber o quanto o serviço iria trazer de resultado. E, principalmente, segundo os executivos da companhia, eles precisavam compreender a dimensão de um risco iminente: a responsabilidade legal. Em resumo, os executivos se perguntaram o que aconteceria se a tecnologia falhasse, uma mensagem de texto chegasse ao motorista, e ocorresse um acidente enquanto o torpedo fosse lido. Isso poderia se tornar uma responsabilidade financeira para a empresa. E uma tragédia, é claro.
Hoje, o projeto está parado. Wayne Ward, vice-presidente de negócios e desenvolvimento de produto da Sprint, explicou que aprecia o que Tibbitts fez. Ele colocou cerca de US$ 450 mil de seu próprio dinheiro na tecnologia, juntamente com cerca de US$ 2,5 milhões arrecadados de outros investidores. Mas Ward disse ter de pensar no negócio em geral.
Por enquanto, Tibbitts e a American Family Insurance têm apostado em conseguir outras operadoras para o projeto. Tibbitts diz que o potencial de uma parceria dará nova vida para a sua tecnologia. Mas isso, só o tempo dirá.