A partir de segunda-feira, uma intervenção inédita no trânsito de Porto Alegre entra em vigor: a implantação de um corredor de ônibus à direita da pista com operação nos horários de pico. Os 4,5 quilômetros de faixa exclusiva aos coletivos entram em funcionamento no eixo das avenidas Cavalhada, Teresópolis e Nonoai - alterando a rotina de motoristas e passageiros que enfrentam diariamente tranqueiras na via.
Já foram pintadas na cor azul as sinalizações no asfalto, que ainda deverão ser retocadas até o início da próxima semana. O horário de funcionamento do corredor será durante a manhã, das 6h às 9h, e à tarde até o início da noite, entre as 16h e às 20h, nos dois sentidos da avenida. Desde quarta-feira, folhetos que informam as mudanças no trânsito estão sendo distribuídos à comunidade. Anunciada em setembro no Dia Mundial Sem Carro, a faixa pretende dar maior agilidade aos ônibus e lotações e, como consequência, incentivar a troca do transporte individual pelo coletivo.
- Temos circulando na avenida 45 linhas de ônibus que atendem a 126 mil passageiros diariamente. Nos últimos anos, houve um impacto muito forte no tempo de viagem dos coletivos, que aumentou cerca de 15 minutos. Tínhamos que tomar uma medida para que os ônibus não fossem penalizados pelo aumento no número de veículos nas ruas - explica o diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari.
Os horários de operação foram definidos conforme a velocidade dos coletivos e os volumes de tráfego. Também foram readequados os posicionamentos das paradas de ônibus para reduzir intervalos, atrasos e tempos de deslocamento dos usuários. No total, serão 33 estações ao longo das avenidas (16 no sentido bairro-Centro e 17 na direção oposta). Ao mesmo tempo em que reduzirá o período de viagem dos passageiros do transporte público, o projeto irá aumentar o congestionamento para os carros - que terão apenas duas faixas para circular nos horários de operação do corredor.
Aos motoristas, sobram dúvidas. Uma delas diz respeito ao acesso de veículos às vias transversais à direita e à entrada em residências e comércio. Conforme a EPTC, esses casos já estão previstos, e os carros poderão circular no corredor ao se aproximarem do local de entrada para realizar a manobra. O mesmo ocorrerá ao sair de alguma das adjacentes para ingressar nas avenidas.
Especialistas aprovam novo corredor
Já comum em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, o modelo de corredor de ônibus que entra em vigor na próxima semana agrada especialistas. De acordo com o engenheiro e doutor em Transportes Luis Antonio Lindau, todas as vias que possuem três faixas de circulação em cada sentido e um fluxo superior a 30 ônibus por hora deveriam receber corredores exclusivos para coletivos.
- Temos um potencial para implantar esse modelo não só na Zona Sul, mas em diversas outras faixas da cidade. Aumentar a velocidade do transporte público é uma questão de justiça social, é preciso prover boas condições de circulação aos usuários dos ônibus e tirá-los do congestionamento. Os passageiros do transporte público parecem ser penalizados, mas precisamos reverter esse lógica. Felizmente, o nível de aceitação nas cidades onde o projeto foi implantado é altíssimo, inclusive por usuários dos próprios carros - afirma Lindau.
Segundo o engenheiro e professor de transportes da UFRGS João Fortini Albano, priorizar o transporte coletivo com o objetivo de melhorar a mobilidade urbana é uma tendência nas grandes cidades - o que, consequentemente, limita o uso de automóveis. Para o especialista, esta é a primeira medida adotada na Capital que segue a linha.
- Porto Alegre, até bem pouco tempo, nem pensava em tomar medidas de restrição ao carro. Historicamente, a cidade adotou um padrão de mobilidade pioneiro, implantando corredores exclusivos para ônibus. Agora, não está se fazendo nada além de ampliar os corredores em vias que não possuíam para agilizar o transporte público. Dentro desta perspectiva, considero positivo. Mas, ao mesmo tempo, vejo problemas na operacionalização. Estariam os usuários do transporte individual preparados para obedecer? Não, porque eles são contra a faixa. Para fazer funcionar, o gestor terá de adotar ações punitivas, mas como elas serão feitas? Com agentes a cada cem metros, câmeras e multas? - questiona Albano.
Outro impecílio diz respeito às bicicletas - que terão de compartilhar a faixa à direita com ônibus e lotações.
O novo corredor
- A faixa ficará à direita das avenidas Cavalhada, Teresópolis e Nonoai, no trecho entre a Rua Costa Lima e a Eduardo Prado
- Serão 33 paradas de ônibus nos 4,5 quilômetros do corredor
- A circulação exclusiva aos ônibus, lotações e bicicletas será das 6h às 9h e das 16h às 20h
- No eixo das três avenidas, operam 45 linhas de ônibus com 2,2 mil viagens diárias
- Estudos mostram que o tempo de viagem dos coletivos reduzirá entre 15 e 20 minutos
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