Enquanto rodoviários cruzam os braços e mantêm os ônibus nas garagens das empresas, o comércio e os cidadãos porto-alegrenses começam a sentir os efeitos da greve. Lojistas do Centro estimam que o movimento caiu mais de 70% em relação a dias normais, mesmo no verão. Órgãos públicos do Estado e da prefeitura também ficaram fechados pela manhã.
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A Loja de Atendimento da Secretaria Municipal da Fazenda, na Travessa Mário Cinco Paus, não irá funcionar nesta quarta-feira por causa da falta de funcionários, e a previsão é de normalização do serviço na quinta.
As unidades do TudoFácil do Centro e da Zona Sul, sob responsabilidade do governo estadual, da mesma forma estão de portas fechadas pelo mesmo motivo. A unidade da Zona Norte funciona com atendimento restrito. Multas com vencimento hoje devem ser pagas no mesmo local.
No Lojão Oba Oba, na Praça XV, cerca de 20 funcionários não puderam chegar. Com isso, a loja funciona com apenas oito pessoas, algumas delas moradoras da Região Metropolitana e não tiveram o serviço de transporte afetado.
- Comparado a um dia de movimento 100%, hoje está 5% - avalia Leandro da Silva Rocha.
- O problema vai ser o revezamento para o almoço - emenda Vera Lúcia de Oliveira.
No Mercado Público, faturamento caiu 70% desde segunda-feira
Foto: Roberto Azambuja
Na farmácia Mais Econômica da Rua Voluntários da Pátria, atendentes que conseguiram trabalhar atrasaram-se. Quem mora mais longe foi liberado porque reclamava das lotações, as quais passavam superlotadas e não paravam, conforme conta o gerente Cristian Wiland. Ele estima queda de 70% no movimento.
A mesma porcentagem é a previsão de queda de faturamento no Mercado Público, diz o presidente da Associação dos Permissionários, Ivan König, desde segunda-feira. Os funcionários das bancas, cita ele, têm organizado caronas, tentam pegar táxis, ou mesmo se atrasam.
- Está uma chiadeira geral. É uma luta para vir trabalhar - resume.
A loja Digimer, na Rua dos Andradas, teve de fechar as portas pela manhã por falta de atendentes. Uma construtora que realiza curso para empreiteiros no Centro sofre problema semelhante. Em turmas de 50 pessoas, somente uma dúzia compareceu às aulas, todas da Região Metropolitana. Com isso, os novos funcionários não conseguem entrar nas obras para dar prosseguimento ao trabalho.
Tentativa de retomada
O presidente do sindicato dos rodoviários esteve em frente à garagem da Nortran por volta das 7h para tentar fazer com que os funcionários liberassem a quantidade de ônibus que determina por liminar da Justiça. Vaiado pela maior parte dos trabalhadores que fazem piquete em frente a empresa, de onde nenhum ônibus saiu até agora, desistiu e foi embora.
- Pedi que pelo menos os 30% voltassem, expliquei que podemos tomar multa, mas estão todos mobilizados, não querem voltar. Também expliquei que o Tribunal (Regional do Trabalho) pode tomar uma atitude, prevista em lei, de autorização às empresas para contratarem emergencialmente. Não tem o que fazer, daqui a pouco vou apanhar - disse Júlio Gamaliel.
O presidente disse que passaria em frente a outras garagens fazendo o mesmo apelo. Às 10h30min deve ocorrer uma coletiva de imprensa, na sede da Força Sindical em Porto Alegre.
Totalmente parados
A ameaça de paralisação geral dos rodoviários foi posta em prática: nenhum ônibus circula pelas ruas da Capital desde o início da manhã desta quarta-feira. Em greve desde segunda-feira, os 30% da frota que rodaram até terça-feira foram retirados de circulação. Piquetes formados em frente às empresas impedem que os ônibus circulem.
O anúncio da greve foi feito no final da tarde de terça pelo Sindicato dos Rodoviários da Capital. Em reunião com empresários, Ministério Público, Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e Justiça no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), a categoria aceitou cumprir a determinação da Justiça de colocar 70% da frota nas ruas durante o horário de pico. Após receber pressão dos sindicalistas, a categoria voltou atrás e decretou a paralisação.
Reivindicações
A greve foi definida em assembleia da categoria na última quinta-feira. Os rodoviários querem 14% de aumento, reajuste do vale-alimentação de R$ 16 para R$ 20 e manutenção do plano de saúde, sem desconto no salário. Porém, as empresas oferecem 5,56% (reposição integral da inflação no ano, segundo o INPC) e querem coparticipação financeira dos empregados no plano de saúde.
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