
Com a manutenção da greve dos rodoviários decretada por ampla maioria em assembleia da categoria nesta terça-feira, em Porto Alegre, permanecem sem respostas questões como a possibilidade imediata de retomada do serviço de ônibus e até onde pode chegar um movimento marcado pela perda de controle das lideranças.
Um dia depois de uma oferta para encerrar a paralisação ter sido costurada por uma comissão de sindicalistas e empresários do setor para sofrer rejeição da categoria, ficou evidente que a radicalização foi incorporada pela maioria dos rodoviários. Eles já não aceitam mais propostas amarradas em gabinetes.
Empolgada com a força demonstrada até então, a base do movimento ganhou musculatura e passou a moldar o comportamento dos líderes. Ressabiadas com as reações negativas dos rodoviários após a assinatura de acordo, na semana passada, na Justiça do Trabalho, as principais vozes do comando de greve agora observam a opinião média da massa e, depois, adotam discurso semelhante. Não raro mudam de posição para evitar o confronto com a maioria, o que hoje seria considerado um suicídio sindical.
Na prática, as lideranças - vinculadas a PSOL, PSTU, CUT, A CUT Pode Mais, Conlutas e Bloco de Luta pelo Transporte Público - perderam o controle da greve. Há remotas possibilidades de um sindicalista carismático convencer a categoria de que uma proposta construída em audiência com a Justiça do Trabalho é satisfatória.
A direção do sindicato, comandado pela Força Sindical, já ingressou na greve com pouca representatividade. Sofrendo forte oposição dos grupos de esquerda radical, se tornou espectadora.
Sindicalista fala em "sitiar" Porto Alegre
Depois de encerrada a reunião de segunda-feira no Tribunal Regional do Trabalho, os oito integrantes da comissão não assinaram documento de cumprimento do acordo, como fizeram na semana anterior. Embora Alceu Weber, funcionário da Carris e membro da CUT, tenha avaliado a proposta como "razoável", logo ele passou a atacá-la ao sentir o clima de "revolta" entre os rodoviários.
- A liderança que não estiver afinada com as pautas da categoria acaba perdendo influência. Depois de tantos anos, com uma greve forte como essa, os rodoviários realmente acreditam que podem ter uma vitória com 14% de reajuste e seis horas de jornada de trabalho - diz Lucas Maróstica, do PSOL e do Bloco de Luta, que passou os últimos 10 dias envolvido com mobilizações em piquetes.
Para a Força Sindical, à qual o sindicato é filiado, há interesses políticos.
- O MIR (Movimento Independente Rodoviário) é liderado pelo Bloco de Luta, PSOL e PSTU. Estão travestidos de rodoviários. Estamos preocupados, há líderes que fazem parte da comissão mas não trabalham com a categoria. Atuam com a orientação do partido político - critica Cláudio Corrêa, diretor de relações sindicais da Força.
Há sinais de que o cenário poderá ficar ainda mais conflagrado. Na assembleia de ontem, um dos principais líderes dos rodoviários, Luís Afonso Martins, servidor da Carris, militante da corrente A CUT Pode Mais e do Bloco de Luta, propôs sitiar Porto Alegre.
A ideia seria fechar as entradas e saídas da cidade, ampliar o caos e a pressão sobre autoridades e empresários para forçar o atendimento das reivindicações. O passo seguinte seria angariar a simpatia de sindicatos dos rodoviários da Região Metropolitana para "exportar" a greve. Assim, a zona mais populosa do Estado entraria em colapso.
Questionado sobre os seus planos de sitiar Porto Alegre, Afonso não negou, mas evitou dar detalhes:
- Estamos discutindo com as demais categorias em greve, como os Correios e a Saúde, e também com o Bloco de Luta, estudantes, sindicatos, apoiadores, centrais, para fazermos um movimento maciço, de impacto, para denunciar à sociedade a opressão que os trabalhadores sofrem da patronal. Mas é uma questão estratégica, não vou poder discutir. Mas a ideia é agir num futuro bem próximo.
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