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A polêmica sobre a exigência de aulas de direção em simulador ganhou um novo capítulo. Mesmo com a liberação do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) para que cada Estado decida sobre a obrigatoriedade ou não das aulas simuladas, as cinco horas em frente ao simulador seguem no roteiro de quem quer obter a carteira de habilitação no Rio Grande do Sul.
O Departamento Estadual de Trânsito do Estado (Detran-RS) deve publicar uma portaria nesta terça-feira com a decisão de permanecer com o atual sistema que exige, além das aulas no equipamento, outras 20 horas de experiência prática.
Em outros Estados, as cinco aulas simuladas podem ser substituídas por outras cinco horas na direção de um veículo real, nas ruas das cidades. Os simuladores nunca foram consenso. Os usuá-rios contestam sua efetividade, além de criticarem o fato de que a inclusão dos equipamentos encareceu e retardou o processo para a obtenção da carteira.
A nova divergência começou quando o deputado federal Marcelo Almeida (PMDB-PR) apresentou um projeto na Câmara suspendendo a resolução que obrigava os centros de formação de condutores (CFCs) a incluir o simulador no processo de habilitação, o que levou o Contran a liberar o uso do equipamento.
- Alguns Estados estavam retardatários na adoção da medida - afirma o diretor geral do Detran-RS, Leonardo Kauer.
Sem o simulador, a habilitação sairia por menos no Estado - hoje o valor fica em torno de R$ 1,5 mil. As cinco aulas simuladas, que custam R$ 47,06 cada, podem ser substituídas por cinco práticas, cujo valor é menor, de
R$ 38,53 cada uma. A diferença final fica em R$ 42,65. Se pudesse trocar o simulador pelo trânsito real, a estudante Aline Espagnol, 19 anos, não hesitaria:
- Acho bem melhor ter aula prática. Na vida real pode passar uma pessoa e tu te expõe a esse risco.
Empresários temiam prejuízo
Recebida com alívio em muitos Estados, a possibilidade dos simuladores saírem do processo de formação de condutores causou calafrios a proprietários e administradores de CFCs da Capital. Para muitos, os prejuízos seriam proporcionais aos investimentos feitos para a instalação das máquinas, que custam cerca de R$ 40 mil cada. Vanderlei Pinheiro de Souza, diretor de ensino do CFC Hot Car, nem bem pagou metade do financiamento dos três simuladores que comprou em fevereiro.
- O prejuízo seria de R$ 100 mil. A gente nem saberia o que fazer. Tem gente que ainda está esperando uma decisão do Detran para se matricular ou não na autoescola - diz o empresário.
O diretor geral do CFC Padrão, Joel Castro, conta que optou pelo comodato para ter o equipamento para as aulas e precisou promover alterações no prédio:
- Mudei toda a disposição do meu CFC para adaptar uma sala (que deve ter pelo menos 15 metros quadrados) ao simulador. Se retirassem a obrigatoriedade, ninguém faria aulas nele.
De acordo com o diretor geral do Detran-RS, Leonardo Kauer, a possibilidade de revogar a exigência dos simuladores retraiu as fabricantes, que retiraram parte dos investimentos e até mesmo retardaram a entrega das máquinas. Kauer calcula que 90% dos CFCs do Estado tenham os equipamentos atualmente.