
O km 385 da BR-386, em Tabaí, que ainda não havia registrado protestos de caminhoneiros desde que começou a mobilização nacional, amanheceu nesta quarta-feira com cerca de 20 caminhões bloqueando meia pista nos dois sentidos. De cada lado, pneus marcavam o piquete e uma faixa expunha as razões do protesto: preço do óleo diesel, mais segurança e melhores condições nas estradas.
A combinação foi feita basicamente por telefone: um ligou para o outro, que chamou mais um e assim por diante. Uma vez na estrada, a fila de caminhões foi aumentando espontaneamente, conforme colegas de outras regiões foram chegando. No caso de Tabaí, o grupo decidiu liberar o trânsito de veículos de carga a cada meia hora, os demais tinham passagem livre em meia pista. Houve caminhoneiros que tentasse furar o bloqueio. Como resposta, um dos manifestantes jogou um punhado de cascalho contra a janela.
- Os caminhoneiros precisam se unir. Estamos aqui porque a situação do transporte chegou ao limite, chega no fim do dia e não nos sobra nada - diz Márcio Brandão, 36 anos, caminhoneiro há uma década, um dos que iniciou o piquete.
O dinheiro para as faixas foi arrecadado numa vaquinha. Para amenizar o calor dos que permaneciam debaixo do sol forte em apoio à causa, garrafas de água gelada eram distribuídas, compradas com dinheiro doado por vizinhos da comunidade - o motorista de um Mercedes largou R$ 100 na mão de um deles de manhã cedo, para ajudar com comida e água.
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Por trás da aparente organização do grupo, que já projeta um novo bloqueio para quinta-feira, na entrada do polo petroquímico, não há um sindicato ou associação. A maioria dos motoristas que conversou com a reportagem afirma não pertencer a qualquer entidade de classe. Uma viatura da Polícia Rodoviária Federal ficou de prontidão no local desde cedo, avisada um dia antes por um dos manifestantes de que o trecho seria alvo de protesto.
O mesmo se repete em Muçum, onde a ERS-129, no trevo de acesso ao município do Vale do Taquari, tem tido bloqueios há três dias, sempre acompanhados de perto por homens do Comando Rodoviário da Brigada Militar. Filas de caminhões se estendiam pelo acostamento nos dois sentidos na manhã desta quarta-feira. Quando um caminhão tentava passar batido, os motoristas parados iam argumentar, pediam nota fiscal para os que alegavam estar transportando carga viva ou perecível, e deixavam seguir. Muitos acabavam voltando depois da entrega, para apoiar os colegas.
Tamir Azevedo, 35 anos, de Encantado, fica sabendo de todos os pontos de manifestação - inclusive fora do Estado - pelo Facebook. Não segue um grupo específico, apenas acompanha as publicações de colegas que estão na sua rede de contatos. Jean Cleber Artico, 35 anos, de Paraí, afirma usar a mesma ferramenta. Nesta quarta-feira, saiu às 3h de casa para carregar o caminhão de brita e foi direto para a fila. Formado em Ciências Contábeis, ele justifica sua decisão usando a contabilidade:
- Para fazer um transporte de grão de Passo Fundo a Nova Bassano, cerca de cem quilômetros, a empresa queria me pagar R$ 19 a tonelada. Eu carrego 15 toneladas no meu caminhão, são R$ 285. Com o diesel a esse preço, ida e volta, gasto isso só no combustível, sem contar pneu, pedágio, seguro.
Artico critica medidas do governo federal que estimularam a compra de caminhões para frete nos últimos anos, por meio de financiamentos, pois isso aumentou muito a concorrência. Fora os caminhões com vários eixos, que transportam o dobro da carga pelo mesmo preço.
- Hoje em dia temos um leilão de carga, o frete baixa e o diesel sobe. O frete deveria ser tabelado por quilômetro rodado - defende Alcebíades Faé, 54 anos, de Marau.
Perto do meio-dia, o grupo começou se concentrar ao redor de uma churrasqueira na beira da via, à espera do "salsipão", servido pela Associação de Motoristas de Muçum. Embora tenham oferecido comida e bebida aos manifestantes desde o primeiro dia de protesto, os líderes da associação evitam se posicionar como organizadores do movimento.
- Aqui não tem presidente, são todos motoristas - resume Ramir Dachery, enquanto chacoalha o carvão.
Confira as últimas informações do trânsito:
Veja onde há bloqueios nesta quarta-feira
(Última atualização às 14h45min)
Rodovias federais:
BR-101: km 22, Três Cachoeiras
BR-116: km 40, Vacaria
BR-116: km 171, Caxias do Sul
BR-116: km 389, Camaquã
BR-116: km 397, Camaquã
BR-116: km 401, Camaquã
BR-116: km 454, São Lourenço do Sul
BR-153: km 53, Erechim
BR-158: km 265, Júlio de Castilhos
BR-285: km 337, Carazinho
BR-285: km 458, Ijuí
BR-285: km 497, Entre-Ijuís
BR-285: km 670, São Borja
BR-287: km 331, São Vicente do Sul
BR-290: km 719, Uruguaiana
BR-293: km 125, Candiota
BR-386: km 36, Frederico Westphalen
BR-386: km 134, Sarandi
BR-386: km 50, Seberi
BR-386: km 243 e 245, Soledade
BR-386: km 268, Fontoura Xavier
BR-386: km 385, Tabaí
BR-392: km 297, São Sepé
BR-392: km 658, Cerro Largo
BR-468: km 0, Palmeira das Missões
BR-468: km 61, São Martinho
BR-470: km 11, Barracão
BR-472: km 115, Boa Vista do Buricá
BR-472: km 155 e 167, Santa Rosa
BR-472: km 481, Itaqui
BR-472: km 572, Uruguaiana
BR-472: km 580, Uruguaiana
Rodovias estaduais:
ERS-126: Paim Filho (bloqueado para caminhões, à exceção dos que transportam alimentos perecíveis e veículos leves)
ERS-450: São Valentim (bloqueado para caminhões, à exceção dos que transportam alimentos perecíveis e veículos leves)
ERS-344: km 104, Entre-Ijuís (bloqueado para caminhões, à exceção dos que transportam alimentos perecíveis e veículos leves)
ERS-324: km 88, Marau (bloqueado para caminhões, à exceção dos que transportam alimentos perecíveis e veículos leves)
ERS-168: km 123, Roque Gonzales (bloqueado para caminhões, à exceção dos que transportam alimentos perecíveis e veículos leves)
ERS-344: km 63, Giruá (bloqueado para caminhões)
ERS-569 e BR-468: Palmeira das Missões (bloqueado para caminhões)
ERS-155: km 65, Santo Augusto (bloqueado para caminhões)
RSC-153: km 02, Passo Fundo (bloqueado para caminhões)
ERS-463: km 02, Tapejara (liberação a cada uma hora para veículos leves)
ERS-344: km 28, Tuparendi (bloqueado para caminhões)
ERS-135: km 52, Getúlio Vargas (bloqueado para caminhões)
ERS-406, entroncamento com a ERS-324: Nonoai (bloqueado para caminhões)
ERS-332: km 139, Espumoso (bloqueado para caminhões)
RSC-470: km 82, Veranópolis (bloqueado para caminhões)
ERS-122: km 69, Caxias do Sul (bloqueado para caminhões)
ERS-126: km 107, Sananduva (bloqueado para caminhões)
ERS-135: Estação (bloqueado para caminhões)
ERS-324: km 102, Ronda Alta (bloqueado para caminhões)
ERS-135: km 38, Sertão (bloqueado para caminhões)
ERS-126: km 26, São João da Urtiga (bloqueado para caminhões)
RSC-481: km 09, Estrela Velha (bloqueado para caminhões)
ERS-129: km 82, Muçum (bloqueado para caminhões)
ERS-436: km 02, Taquari (bloqueado para caminhões)
RSC-287: km 78, Venâncio Aires (bloqueado para caminhões)
RSC-287: km 85, Venâncio Aires (bloqueado para caminhões)
RSC-453: km 10, Venâncio Aires (rodovia bloqueada a cada 30 minutos)
RSC-453: km 02, Venâncio Aires (bloqueio somente na via lateral, de acesso à RSC-453)
ERS-404: km 04, Sarandi (bloqueado para caminhões)
* Zero Hora