Pior do que os discursos da Dilma, pior do que as desculpas do Cunha, pior do que mil Bolsonaros batendo boca com mil Wyllys, pior do que tudo isso, que é bem ruim, é o que o MEC está tentando fazer com o ensino brasileiro.
Pais, professores, alunos, coxinhas, petralhas, cristãos e muçulmanos, todos temos de nos unir contra o projeto do MEC intitulado, com pompa acadêmica, de Base Nacional Comum Curricular, o BNCC.
É evidente que se trata de um projeto de viés ideológico, mas, para combatê-lo, não podemos levar isso em consideração. Até porque muitos simpatizantes do governo concordam que o projeto é ruim. Péssimo, na verdade. Horrível.
Há questões técnicas que têm de ser destrinchadas pelos especialistas, trabalho para o Luís Augusto Fischer, para os Gonzaga, o Sergius e o Regis, para o Cláudio Moreno, para o meu amigo Sérgio Job, para tantos atentos professores que temos, civilizando o Rio Grande e o Brasil.
Isso é com eles. Atenho-me ao genérico.
Genericamente, essa é uma proposta que os intelectuais chamariam de "projeto de desconstrução". O que se tenta desconstruir é o modelo europeu da educação brasileira. Eles querem deslocar o eixo da Roma Antiga, da Grécia clássica, da França, da Alemanha e da Inglaterra, que é onde se desenvolveu a civilização ocidental, e fazê-lo girar entre a cultura tupi-guarani e a africana profunda, onde habitam zulus, bembas, iorubás, mandingos e tútsis.
Na disciplina de história, a ideia é reduzir quase a zero o ensino de História Antiga e Medieval, além de acabar com a ordem cronológica do conteúdo. Eles querem que os jovens concentrem-se no estudo da história africana e ameríndia.
Na literatura, a ideia é a mesma: concentrar os estudos nas literaturas de língua portuguesa, africana e indígena.
Creio que bastam esses dois pontos para que os brasileiros ergam-se como um único homem e cantem, de punhos cerrados: "Às armas, cidadãos! Formai vossos batalhões! Marchemos! Marchemos! Nossa terra do sangue impuro se saciará!"
Repare que não sou contra o estudo da história americana, indígena e africana, nem contra a leitura de livros de autores africanos e indígenas, embora - admito, eu aqui, na minha ignorância - não conheça nenhum autor indígena. O que sou contra, o que todos temos de ser contra é um modelo de educação que estreite conhecimentos, em vez de ampliá-los.
Se esse projeto for aprovado, o que vai ampliar-se no Brasil são as trevas. Vamos nos afundar numa Idade Média cultural. E o pior é que nem saberemos disso, porque ninguém fará ideia do que veio a ser essa coisa de Idade Média.