Foram identificadas as impressões digitais do Geddel nos R$ 51 milhões guardados naquele apartamento na Bahia.
Será que ele ia lá para contar o dinheiro?
Suponho que sim. Fico imaginando o Geddel no meio de todos aqueles maços de real e dólar. Percebe-se, pela sua história, que ele é um homem que gosta de dinheiro. Provavelmente ia lá para acariciar as notas e gemer baixinho.
No seriado Breaking Bad, há uma cena em que dois bandidos entram em um depósito cheio de dinheiro. São pilhas de cédulas que se elevam a metro e meio de altura, maiores até do que o volume amealhado por Geddel. Os bandidos fazem o que têm de fazer e vão saindo, mas, antes de ir embora, um deles pede ao outro que espere.
– Tem algo que preciso fazer – informa.
E se deita na cama de dólares, feliz.
Geddel é bem o tipo de homem que faria isso.
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Geddel é um personagem menor desse importante capítulo da história do Brasil. É o que você pode chamar de ratão. Quase todos os demais, porém, não estão muito acima dele, não passam de figuras de segunda categoria.
São raros os grandes homens da história brasileira.
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O grande homem precisa dispor de talento, esforço e sorte. Digo isso depois de finalmente assistir ao ótimo Dunkirk, no cinema. Estava atrasado para ver esse filme. Era meio que obrigação vê-lo, porque conheço sua história desde a primeira infância. Meu avô contava-a em pormenores, eu ficava extasiado e, vez em quando, pedia que contasse de novo.
Falando em talento, meu avô tinha de sobra para dar cores a uma história antiga, e foi o que fez com essa de Dunquerque. Mais tarde, procurei livros a respeito e constatei que tudo o que ele relatava era verdade.
O filme mostra bem a situação desesperadora em que se encontravam mais de 300 mil soldados britânicos e franceses, em maio de 1941. A infantaria e as divisões Panzer alemãs empurraram os aliados para a praia, onde eles ficaram encurralados, tendo o oceano pela frente e os tanques pelas costas. Não havia saída, todos seriam capturados e a Europa cairia inteira nas mãos dos nazistas. Seria, na prática, o fim da guerra.
Mas, então, aconteceu algo até hoje sem explicação: Hitler ordenou que os tanques se detivessem. Há várias interpretações acerca dessa decisão, e nenhuma delas pode-se dizer que esteja cem por cento correta. O fato é que a hesitação de Hitler permitiu a retirada de 340 mil soldados daquela arapuca, graças à ação heroica da Real Força Aérea Britânica e à façanha de civis ingleses, que zarparam da Ilha com barcos de pesca, lanchas e chatas, e atravessaram o Canal da Mancha para resgatar seus soldados.
Sorte dos Aliados, da democracia e, particularmente, de um grande homem, Winston Churchill, que, além de tudo, tinha talento e esforçava-se bastante. O filme fecha exatamente com um discurso histórico de Churchill, e quando conto isso não estou dando spoiler, porque se trata de fato da História _ todo mundo sabe como termina.
Já escrevi sobre esse discurso, levo-o comigo como uma divisa. "We shall never surrender!", brada Churchill.
Nós nunca nos renderemos.
Ao fazer esse juramento, Churchill acrescentou aço à têmpera inglesa, advertiu Hitler de que não haveria acordo possível e salvou o Ocidente.
Mas Churchill, como já enfatizei, só pôde se esforçar e usar o seu talento porque teve sorte.
Eis o busílis da questão. Sem esforço, o talento é desperdiçado. Só que esforço e talento reunidos muitas vezes não são o suficiente, se não houver sorte.
Agora pergunto: existe realmente sorte? Nós, brasileiros, acossados por homens como Geddel, Lula, Temer, Aécio e Renan, temos sorte? Deus é mesmo brasileiro? Vou continuar no assunto.