* Jornalista e escritor
O que será de nós? Além de triste, tudo é funesto e aterrador, grotesco e brutal.
Quando o procurador-geral da República denuncia o presidente da Nação como chefe supremo da organização criminosa em que se transformou o partido governante, não se estilhaçam apenas a figura de Michel Temer e seu círculo íntimo, com os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco à frente. Nem só o PMDB. Todo o arcabouço ético do país tende a se desmoronar.
Em quem confiar quando o crime está acima de tudo e de todos, dá ordens, manda, governa e é chamado de "vossa excelência"?
A derradeira flecha de Rodrigo Janot atingiu o núcleo forte (mesmo putrefato) da organização criminosa denominada pela PGR de "quadrilha do PMDB na Câmara", que comprovadamente recebeu R$ 587 milhões em propina.
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Em nenhum país do planeta, jamais houve algo tão dilacerante: Temer e todos os ex-presidentes vivos foram denunciados por corrupção. Sarney, Collor e Dilma respondem na Justiça. Lula já foi condenado e outras denúncias o estrangulam. Fernando Henrique, do PSDB, safou-se porque o processo prescreveu.
Mas nada mostra tanto a profundeza da prostituição político-partidária quanto a organização criminosa montada por Temer em 2006, ao assumir a direção do PMDB e ser cooptado pelo PT de Lula. Em 245 páginas, cruzando dados de 36 delatores _ desde corruptos e opulentos empresários a doleiros e outros marginais ricaços _ o procurador-geral descreve a mecânica da rapina.
De um lado, a extorsão dos político$, ministro$ e alto$ funcionário$. De outro, o $uborno do empre$ariado como forma de governar.
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A partir do assalto à Petrobras, em que Lula comprou o PMDB de Temer e o PP de Maluf com milhões de dólares, Janot mostra a expansão do crime organizado, parido no conluio de políticos e grandes empresários. Ali nasce o sórdido capitalismo oportunista, em que impérios como a JBS (dos açougueiros Joesley e Wesley) se formam à custa do Estado, com recursos do BNDES. Ou seja, com dinheiro do FGTS dos trabalhadores.
Por isto, Temer alega "ser perseguido" por Janot?
O espanto cresce com o que Lula disse em juízo sobre Antonio Palocci, seu ministro de confiança, que o "traiu" e revelou os milhões recebidos da Odebrecht: "Ele é tão esperto que é capaz de simular mentiras mais verdadeiras do que a verdade".
Quando íntimos, quantas mentiras Palocci montou para Lula?
Tudo é tão brutal quanto a menina de oito anos violada e contaminada com HPV em Venâncio Aires, algo nojento e aberrante que em política soa a "natural".
Todos estão no crime e o crime é de todos?