Dinheiro em profusão atrai estelionatários. A fórmula é antiga, mas não impede que a negligência continue a fazer dos cofres públicos vítima preferida dos espertalhões, num ciclo incessante.
O Bolsa Família ainda era mais conhecido pelo seu antigo nome, Fome Zero, quando vivenciou sua primeira grande onda de fraudes. Foi em 2004, e o governo federal acabou identificando 142 mil fantasmas no programa, o maior da área social. Eram beneficiários inexistentes ou que não teriam direito a receber os valores destinados, mas que possuíam cartões para saque da verba destinada à alimentação.
A revelação veio a partir de uma série de reportagens de Zero Hora, a partir de uma dica que recebi. Um zeloso servidor público municipal informou que, em Sapucaia do Sul, grande parte dos supostos necessitados listados pelo Bolsa Família eram inexistentes.
Consegui obter a lista e fui atrás apurar. Batia na porta das residências, e quem residia ali não tinha recebido o benefício. Repetimos o esforço em diversas outras cidades gaúchas e, além de identificar cartões-fantasma, flagramos gente com casa própria, automotriz e carro na garagem, ganhando a verba destinada a pessoas que passam fome.
O jornal apontou mais de 500 nomes duplicados ou de beneficiários duvidosos, o que levou o governo federal a recadastrar os 5,9 milhões de beneficiários do Bolsa Família no país. Daí foram expurgados 142 mil nomes. Uma fiscalização que deveria ser constante.