A sete centésimos dos dois dígitos, a inflação acumulada em 12 meses até outubro, de 9,93% conforme o IPCA, embute alta probabilidade de que 2015 termine com o principal indicador de alta de preços acima de 10%. Basta que o acumulado nos três meses que falta contabilizar exceda as taxas de 0,42%, 0,51% e 0,78% registradas no último trimestre do ano passado. Como no mês passado chegou a 0,82%, o risco é alto.
Sempre que a inflação sobe, muita gente tem a sensação de que o dado estatístico não espelha seus gastos. E, de fato, o número "oficial" não representa a cada um de nós. Equivale a uma média. Isso quer dizer que cada um tem "a sua" inflação.
Se uma família ou uma pessoa consomem mais produtos afetados pela alta do dólar, terão inflação maior. Mas o IPCA ainda é o indicador mais preciso disponível. Não é excessivamente exposto ao câmbio, como a série dos IGPs, e é o mais abrangente, porque envolve famílias com renda de até 40 salários mínimos – R$ 31,5 mil em valores de hoje.
No dia em que o IBGE divulgou esse número impressionante, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Altamir Lopes, afirmou que a instituição não descarta elevar o juro novamente, se necessário, para que a inflação chegue a 2017 dentro do centro da meta de 4,5% ao ano. Com a alta média de preços rodando acima do dobro desse limite, enquadrar o comportamento dos preços é um desafio.
O manual que recomenda elevar o juro para conter a inflação passa por um teste de efetividade no Brasil de 2015. Economistas se debruçam sobre teses mais ou menos exóticas enquanto a preocupação dos consumidores é fazer a conta da alta de preços caber no orçamento mensal.
Até os comerciantes reconhecem o comportamento de substituição de produtos de preço mais alto ou que subiu muito por outros mais comportados. Essa é uma boa receita para não alimentar seu 'personal dragão'. Mas é responsabilidade do BC impedir que o país seja exposto a uma superpopulação desse monstro.