A temperatura está alta e vai subir nos próximos dias. Não é exercício de meteorologia, mas a confirmação do salto inflacionário de 2015 vai adicionar graus Celsius à decisão do Banco Central sobre o juro no dia 20. A expectativa, que começou com alta de 0,75 ponto percentual, baixou para 0,5 diante dos sinais de que o governo quer ao menos estancar a queda do PIB. Agora, há fortes pressões para que o juro não só não suba, como seja reduzido.
É nesse clima de suspense que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, resolveu não adicionar dúvida ao que já é incerto. Como o estouro da meta foi forte e já estava previsto há meses, divulgou sua carta de justificativa em tempo recorde (leia aqui a íntegra).
Na próxima semana, a carta vai alimentar debates em torno do banco-centralês de Tombini, mas alguns sinais estão lá: '''Embora outras ações de política macroeconômica possam influenciar a trajetória dos preços, cabe especificamente à política monetária manter-se especialmente vigilante (grifo da coluna), para garantir que pressões detectadas em horizontes mais curtos não se propaguem para horizontes mais longos''.
O final é bastante claro: '''é importante ressaltar que, independentemente do contorno das demais políticas, o Banco Central adotará as medidas necessárias de forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas, ou seja, circunscrever a inflação aos limites estabelecidos pelo CMN, em 2016, e fazer convergir a inflação para a meta de 4,5%, em 2017'''.
O dilema é antigo: se não eleva a taxa, perde credibilidade e o controle da inflação, se eleva, agrava a recessão, última coisa que o Planalto quer nesse momento. Mas situação nunca foi tão crítica: não só o rumo da economia está em jogo, mas o próprio futuro do governo. Não foi à toa que a presidente Dilma Rousseff, antes de deixar Brasília para mimar o novo neto, Guilherme, abusou da cautela ao comentar a trajetória do juro: só o presidente do BC pode falar sobre o assunto. E Tombini se manifestou.