Entre 15 de março de 2015 e 13 de março de 2016, a situação mudou muito, e não para melhor, do ponto de vista do governo. Depois do primeiro grande protesto, os seguintes haviam perdido fôlego e participantes – tanto que foi feita uma parada técnica. Descontada a convocação pouco atendida de dezembro, desde agosto não havia grandes multidões nas ruas.
Em um ano, o que era apenas expressão de desejo – o impeachment – ganhou processo em andamento no Congresso. A fatia do PIB comprometida na Lava-Jato se elevou substancialmente depois da prisão de Marcelo Odebrecht, em 19 de junho passado. A investigação sobre os políticos chegou mais perto do Planalto com a prisão do então líder do governo no Senado, Delcídio Amaral.
E o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo de uma condução coercitiva, de uma denúncia e de um pedido – ainda que contestado no governo e na oposição – de prisão preventiva. Isso tudo em menos de um ano. É muito para qualquer estabilidade política.
Como esperavam os primeiros defensores do impedimento da presidente Dilma Rousseff, o quadro econômico não fez mais do que se agravar, com a queda confirmada de 3,8% no PIB em 2015, a perspectiva de um novo mergulho – se não igual, maior – para este ano e indicadores de quebra de empresas e desemprego em trajetória de alta.
Mesmo com ânimos acirrados e os já costumeiros cartazes sem noção – desde os que rogam pela volta das Forças Armadas aos que atribuem epidemias de doenças ao governo –, o que se viu nas ruas neste domingo reforça o compromisso dos brasileiros com os processos democráticos. Havia temor de incidentes, mas provocações não passaram disso e, mesmo nas cidades onde a coincidência de manifestações pró e contra o governo foram mantidas no mesmo dia, não ocorreram confrontos. Ponto para a população.
Uma novidade na manifestação pelo impeachment em São Paulo foi a participação institucional da Federação das Indústrias do Estado de SP, a poderosa Fiesp, que saiu com seu pato à frente de sua semipirâmide da Avenida Paulista. Sempre cautelosos em tomar posições contra o governo, empresários têm descido do muro e assumido a defesa do encurtamento do mandato de Dilma.
Como disse o jornalista Clovis Rossi, há um evidente abandono da presidente pelos ''poderes fáticos'' – sobretudo o mercado financeiro e o setor produtivo. O pato da Fiesp foi abraçado pela multidão na Paulista, diferentemente dos políticos de oposição que tentaram assinalar outro ponto de inflexão da quinta rodada de protestos. A pressão das ruas voltou a crescer, para todos os lados e democraticamente.