A semana que culminou com o início do processo de votação do parecer favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff fechou com alta de quase 6% na bolsa de valores. Em pontos, o nível no fechamento desta sexta-feira (53.227) foi o mais alto desde julho de 2015. E um relatório do banco BTG Pactual projeta que o mercado de capitais brasileiro poderá receber uma dose extra de R$ 230 bilhões caso o desfecho seja o de encurtamento de mandato.
Então, sai a presidente e todos os problemas econômicos do Brasil ficam resolvidos? Longe disso. O que o mercado enxerga é a oportunidade de começar a consertar. O professor de Economia da UFRGS Marcelo Portugal, faz um diagnóstico médico sobre a superação: será uma recuperação ortopédica. Quando um osso quebra, explica, é preciso imobilizar e esperar a consolidação antes de voltar à atividade normal. Prevê que ocorrerá o mesmo com a economia brasileira, com qualquer resultado no domingo. Se tudo der muito certo, imagina que a recuperação possa começar em meados de 2017.
No final da semana, começaram a circular com mais desenvoltura nomes de um ainda eventual governo Michel Temer. Na área econômica, há nomes óbvios, como os dos tucanos José Serra e Armínio Fraga, o indefectível Henrique Meirelles e também possíveis opções, como Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco e ex-diretor do Banco Central na gestão de Armínio. Surgiram até perfis inesperados, como o de Marcos Lisboa.
Entre empresários, há duas preocupações principais: sinais claros de um ajuste severo e estabelecimento de regras claras. Interlocutores de Temer sinalizam um corte quase à metade no número de ministérios. Seria a condição para o segundo passo, a adoção de um novo tributo, possivelmente a reedição da CPMF que gerou tanta rejeição. Esse seria um dos “sacrifícios” aludidos por Temer. O reequilíbrio fiscal, com o desemprego e a inadimplência, estão no topo da lista das soluções de prazo mais longo do que o projetado pelo mercado financeiro. Mas há pouca disposição, nas finanças e nas empresas, para muita espera.