A exibição de interlocutores da área econômica – só na semana que passou foram Armínio Fraga, Delfim Netto e Henrique Meirelles – mostra que o vice-presidente Michel Temer, como frisaram seus aliados, sabe que está na gestão desta crise a chave para tentar chegar ao fim de 2018. ''Não posso errar'', tem dito em cada um desses encontros. E não pode, mesmo.
É mais no artigo publicado domingo na Folha de S.Paulo do que nas declarações reticentes dadas no sábado após a conversa – ''não falamos sobre hipóteses'', desconversou, sobre convite para o ministério da Fazenda –, que Meirelles ajuda a interpretar a batalha pela imagem do Brasil no Exterior. Conhecido por suas conexões internacionais, o ex-presidente do Banco Central do governo Lula explicita o que há por trás das preocupações em torno da narrativa que a presidente Dilma Rousseff se empenha em construir no Exterior sobre o ''golpe''.
No artigo com o título ''Força externa'', Meirelles afirma que ''o mercado internacional cumprirá papel fundamental na retomada da economia brasileira'', e menciona investimento direto, mercado de capitais e a reabertura do crédito global. Ele só não usa todas as letras, nem em entrevistas, nem por escrito, é que a dependência de capital externo para uma retomada é de curtíssimo prazo.
A melhor carta que um ainda eventual governo Temer tem na mão é o plano de concessões desenhado por Dilma – sem as restrições impostas por ela. As grandes empreiteiras seriam as grandes candidatas nacionais a disputar os projetos, mas enfrentam obstáculos legais e econômicos.
Sobram os grandes players globais, para os quais precisa ficar claro que voltar a investir no Brasil é seguro. Faça-se justiça, até agora o circo da votação na Câmara na semana passada jogou mais contra do que os pronunciamentos de Dilma.