A expectativa quase consensual entre analistas econômicos era de que a inflação começaria a refluir em maio, abrindo espaço para o tão aguardado início do processo de redução do juro básico no segundo semestre. Sem surpresa, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom-BC) decidiu não se mover nesta quarta-feira, frente à iminente troca de diretoria da instituição e ao repique inesperado na alta de preços.
A combinação cria um cenário mais complicado do que se esperava. O roteiro desenhado – em boa parte com ajuda de Ilan Goldfajn ainda como economista-chefe do Itaú Unibanco – passava por inflação desacelerando e o começo dos cortes no final de agosto.
O alívio no custo do crédito, hoje caro e muito seletivo, tiraria um elemento recessivo da sala e abriria espaço para algum fôlego na economia. Justo quando Ilan teria a chance de, como presidente do BC, transformar perspectiva em ação, o dragão se moveu, mudou o arranjo da sala e complicou o cenário de saída da recessão.
Com as medidas de contenção de gastos – até agora necessárias, mas não suficientes –, o início do corte no juro básico equivaleria à antessala da recuperação. Se for preciso adiar o corte, porque os preços não mostram tendência de acomodação, todo o processo de retomada pode também ficar para mais tarde.
O comunicado assinado ontem pela diretoria que se despede do BC foi explícito: “O nível elevado da inflação em 12 meses e as expectativas de inflação distantes dos objetivos (...) não oferecem espaço para flexibilização da política monetária”. A tradução do banco-centralês é “preços altos não permitem baixar o juro”.
Como em setembro não há reunião do Copom, talvez seja preciso esperar até outubro. A primeira poda da taxa básica ocorreria já na primavera – se o dragão se acalmar. O problema é que negócios também vão demorar mais a florescer. A esperança vem com sua cor característica, o verde. Se o dólar se mantiver menos valorizado frente ao real, pode ajudar a acalmar os preços. E aí será possível antecipar a primavera.