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Um dos setores mais atingidos pela recessão, a construção civil percebe os primeiros sinais de reação. Por enquanto, mais sondagens de consumidores do que aumento das vendas. Com isso, é possível acreditar no retorno dos lançamentos de empreendimentos na Capital no final do segundo semestre, projeta o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), Ricardo Sessegolo. Mesmo assim, novos projetos precisam ser muito bem planejados e voltados a nichos. A seguir, confira a entrevista.
Indicadores de confiança mostram melhora das expectativas da construção civil no país. Aqui o setor sente o mesmo?
Estamos sentindo, pela movimentação no último mês de retorno de visitas aos plantões, o que não estava acontecendo nos últimos meses. Isso é um sinal de que as pessoas estão começando novamente a olhar lançamentos imobiliários. Ou seja, pensando na compra de imóveis.
A qual fator é atribuído esse retorno?
À melhora dos indicadores da economia brasileira. A equipe econômica colocada pelo presidente interino Michel Temer está passando confiança em todo o mercado, entre consumidores e empresários, de que o país pode retornar lentamente ao caminho do crescimento. Então, isso está fazendo os índices de confiança aumentarem, e as pessoas voltam a pensar em adquirir imóvel.
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Como foi o desempenho dos lançamentos e das vendas no primeiro semestre na base do Sinduscon-RS?
A venda se manteve em torno de 35% a 40% abaixo dos últimos dois anos. Mas, em termos de lançamento, caiu muito.
Por quê?
Porque os empresários lançaram pouco, com a preocupação de que não houvesse mercado. Muitos se retraíram e não lançaram nenhum empreendimento, praticamente.
Qual é a expectativa para o segundo semestre?
A expectativa é de que, passados o impeachment e a Olimpíada, a partir de setembro, mesmo com as eleições municipais, a economia tenha melhor desempenho do que nos semestres anteriores. Normalmente, o segundo semestre, para o setor imobiliário, representa 60% das vendas do ano.
O final do segundo semestre pode marcar uma retomada dos lançamentos?
Sim. E o estoque de Porto Alegre, conforme levantamento que é feito pelo Sinduscon, tem ficado em torno de 3 mil imóveis, e não cresce. Ou seja, tem se mantido estabilizado. Porto Alegre sempre teve um estoque médio de 5 mil a 5,5 mil imóveis. Houve um consumo desse estoque. Para uma cidade de 1,5 milhão de habitantes, e que também atende a muitos do interior do Estado, é um estoque que comporta agora, com a economia dando sinais de retomada, novos lançamentos imobiliários.
Qual a estratégia adotada para decidir o tipo de lançamento?
Buscar atender nichos de mercado. Aquilo que as pessoas querem comprar. Então, são produtos diferenciados.
Por exemplo?
Há lançamentos para uma categoria jovem de projetos arquitetônicos modernos, em que o apartamento é entregue de uma forma, completamente aberto, com cozinha e living em um grande espaço, só reservando a parte do dormitório. Não são grandes empreendimentos, serão de 40 ou 50 apartamentos. Isso tem colocação de mercado, não só em Porto Alegre.
São apartamentos com menos cômodos?
Não seriam menos cômodos. É uma proposta de modernismo. Ou seja, quase um loft. Um negócio muito bem criado para o público mais jovem, o casal de 30 a 45 anos, mais ou menos, que quer um espaço diferenciado com todo o conforto.
Onde a procura é maior?
Em Porto Alegre, se fizer uma pesquisa de onde as pessoas querem morar, é nesse perímetro entre a Independência e (o bairro) Chácara das Pedras. É nesse triângulo. Ou seja, Independência, Moinhos de Vento, Higienópolis, Bela Vista, até Três Figueiras e Chácara das Pedras. Nós temos que fazer produtos para atender aos desejos de onde as pessoas querem morar. Especificamente, há produtos diferenciados na Zona Sul e no Menino Deus, onde os moradores não querem sair do bairro. É um bairro que tem o carinho das pessoas.
Mas há terrenos disponíveis nessas regiões?
É aí que está. Temos que pensar em renovação de alguns prédios. Em demolição de algum prédio antigo. Ou até prédios com poucos apartamentos, grandes, antigos, que não têm estacionamento. Esse apartamento não tem mercado hoje. Então, as pessoas querem migrar para um apartamento menor, mas mais moderno e que tenha pelo menos uma ou duas vagas na garagem.
A segunda vaga na garagem é uma exigência cada vez maior?
Antigamente, era uma vaga. Hoje, tu tens que ter duas vagas. Marido e mulher têm carro. Isso é uma movimentação natural.
Como está a questão do crédito?
A Caixa Econômica Federal deu uma pequena estimulada no crédito. Mas, em termos de bancos privados, está muito restrito, seleto, com uma barra exigências bastante elevada.
E a devolução dos apartamentos comprados?
Essa fase passou. Foi uma leva de grande entrega vendida há três anos, em que os imóveis ficaram prontos no meio da crise, com as pessoas com medo de assumir essa dívida. Então, como pagaram muito pouco, foi preferível devolver do que assumir o compromisso quando o imóvel ficou pronto. Consideramos essa fase como passada.
A partir da perspectiva de retomada de lançamentos no final de 2016, qual é a previsão para o mercado de trabalho? A construção civil demitiu muito nos últimos anos.
Estávamos com 160 mil trabalhadores no Estado. Segundo dado de maio do Caged, estamos com 142 mil. A retomada do emprego será lenta.
Será possível voltar àquele nível de atividade de quatro ou cinco anos atrás?
Não acredito. Ficaremos em um patamar mais abaixo.
Qual patamar?
Se caímos em torno de 35% a 40%, se ficarmos no patamar de 20% abaixo, ou seja, subir 50% do que caiu, está muito bom para o mercado. Não há nenhum otimismo exagerado, mas, sim, uma questão de confiança na retomada do país. Estaremos, em 11 de agosto, com o presidente interino Michel Temer. Todo o setor de construção do Brasil estará entregando uma pauta.
*A colunista Marta Sfredo está em férias