A percepção predominante de que o pior da crise política ficou no retrovisor e o aparecimento de sinais a indicar estabilização da economia levaram o dólar a R$ 3,21 na semana passada, menor valor em quase um ano, mas a euforia não encontra sustentação nos fundamentos, avalia Sidnei Moura Nehme, diretor-executivo da NGO e um dos maiores especialistas em câmbio do país. Os movimentos recentes, com a moeda americana em tendência de queda e a bolsa reagindo – também na esteira das melhores perspectivas para os emergentes – se refletiram nas expectativas divulgadas nesta segunda-feira pelo boletim Focus, do Banco Central (BC).
Os analistas do mercado financeiro passaram a esperar agora um dólar a R$ 3,46 ao final do ano. Uma semana antes, a previsão era de R$ 3,60 e, um mês atrás, de R$ 3,68. Para Nehme, no entanto, um patamar adequado considerando a economia brasileira arrasada, o fluxo cambial negativo de US$ 5 bilhões no ano e a previsão de déficit de R$ 170 bilhões, que também pode ser de R$ 150 bilhões em 2016, seria entre R$ 3,50 e R$ 3,60.
– Em torno do novo governo há expectativas, mas, em termos efetivos, não fez nada. E o mercado financeiro, que apoiou fortemente a mudança de governo, fica em silêncio – aponta Nehme.
A intervenção do BC na sexta e nesta segunda-feira, com a oferta de contratos de swap cambial reverso (equivalente à compra futura de dólares) está mais para faz-de-conta do que uma tentativa sincera de promover uma correção na moeda americana, avalia Nehme. Se a intenção fosse verdadeira, sustenta o especialista, o volume de contratos oferecidos nos leilões deveria ser pelo menos cinco vezes maior.
O dólar na cotação atual ajuda a segurar a inflação, mas ao preço de prejudicar as exportações e atrasar ainda mais a recuperação da economia via setor externo, o que deveria ser prioridade em busca da reversão do quadro de desemprego, queda da renda e retração do consumo, avalia Nehme. Dessa forma, há o risco de asfixiar ainda mais a economia e desestimular investimentos estrangeiros e do empresários nacionais.
*Interino da coluna +Economia. A titular, Marta Sfredo, está em viagem.