Ingrediente essencial na receita para levar o país a retomar o crescimento da economia, o corte da taxa Selic pelo Banco Central (BC) deve demorar um pouco mais do que o mercado imaginava. Há poucos dias, as apostas se concentravam na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de outubro. Agora, a percepção é de que isso seria possível apenas a partir do encontro marcado para a última semana de novembro.
A projeção de mudança de calendário para baixar o juro básico da economia (hoje em 14,25% ao ano) se solidificou com a ata da primeira reunião do Copom com o BC sob a batuta de Ilan Goldfajn. No documento, os integrantes do colegiado apontam riscos com a persistência da pressão dos preços, expectativas acima da meta e a inércia, o que tende a "tornar o processo de desinflação mais lento e custoso".
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Está à mesa a principal fonte do receio apontado pela ata do Copom. O IPCA de junho, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que alimentação e bebidas representaram quase dois terços da taxa no mês passado. No acumulado do ano, enquanto o índice geral tem alta de 4,42%, o item subiu bem mais: 7,37%. Básicos nas refeições dos brasileiros, feijão, arroz e leite impedem uma desaceleração maior na inflação oficial do país.
Apesar do pé atrás do BC, José Carlos Hausknecht, diretor da MB Agro, avalia que os preços desses produtos já estão em patamares elevados e tendem a uma acomodação nos próximos meses. Novas safras, real mais forte que pode ajudar importações e a sazonalidade, no caso do leite, tendem a desnutrir a inflação dos alimentos, avalia Hausknecht.
– Esses itens já sofreram alta de preços, estão em patamares elevados, e não devem ter aumentos significativos daqui para a frente – analisa o especialista.
Outro ponto da ata do Copom indica que o corte do juro também depende de as previsões do mercado, conhecidas por meio do boletim Focus, convergirem para a expectativa de inflação no centro da meta (4,5%) no próximo ano. Elogiado pelo novo formato, mais didático e claro, o documento traz um recado ao Planalto e Congresso: baixar a Selic depende de uma redução das despesas do governo e da receptividade parlamentar à aprovação do teto dos gastos limitado à variação da inflação.
*A colunista Marta Sfredo está em férias