A "difícil situação política" da Venezuela pode ser um obstáculo para a negociação do acordo entre Mercosul e União Europeia, afirmou nesta quinta-feira o chefe da divisão America do Sul do Serviço Exterior Europeu, Adrianus Koetsenruijter.
Apesar de o país ter optado por ficar de fora das negociações que voltaram a ganhar ritmo com a troca de ofertas entre os blocos, em maio passado, como destacou Carlos Marcio Cozendey, subsecretário-geral de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores, os europeus não perdem oportunidade de dar recados sobre seus temores em relação à instabilidade econômica e política do país.
Koetsenruijter chegou a sugerir que os integrantes do Mercosul deveriam liderar um esforço de apoio internacional frente à crise humanitária na Venezuela.
– A Venezuela enfrenta uma crise forte que pode durar anos. Começa a surgir um movimento de apoio humanitário internacional, no qual os sócios do Mercosul deveriam ser os primeiros – disse Koetsenruijter.
Ambos participaram, com o embaixador da Argentina no Brasil, Carlos Magariños, de um debate sobre o acordo durante o 15 Encontro Santander América Latina. Além das preocupações com Venezuela e o Brexit, neste momento Brasil e Argentina sinalizam menos foco na integração via Mercosul.
No Brasil, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, já manifestou disposição de rever o status de união aduaneira que, ao prever a Tarifa Externa Comum (TEC), obriga os países a negociar em conjunto acordos comerciais.
A Argentina pediu para se tornar observadora, de forma isolada, no bloco Aliança do Pacífico, formado por México, Chile, Peru e Colômbia. Segundo Cozendey, o que se discute é a "flexibilzação" da união aduaneira, como já vem ocorrendo na negociação do Mercosul com países isolados da Aliança, que preevem ritmos diferentes de redução das tarifas de importação entre os integrantes do bloco.
O representante do Brasil relativizou a preocupação do colega europeu sobre o peso da Venezuela na negociação, ponderando que a questão é mais política do que técnica, uma vez que o país sequer cumpriu o prazo de quatro anos para se adequar às normativas do Mercosul.
Koetsenruijter, por sua vez, reconheceu que a Europa vive um processo de "referendite" – no sentido de infecção por consultas públicas – e admitiu que a exploração política do tema na Europa, intensificada pelo Brexit, pode atrapalhar as negociações com reivindicações por referendos para legitimar um eventual acordo que ainda deve exigir ao menos dois anos de negociação, retardando ainda mais sua implementação.
O diplomata europeu deixou clara sua exasperação com a demora da negociação, iniciada em 1999, interrompida em 2004 e retomada em 2010:
– Tivemos um longo tempo de confrontação, que provoca muita frustração.