Sem sinais claros de que deixará suas ideias antiglobalização só na campanha, Donald Trump proporcionou ao mundo, e aos países emergentes em especial, uma semana de sobressalto. Analistas assumem que entraram no arriscado jogo de pesar, medir e interpretar cada palavra do presidente eleito dos Estados Unidos em busca de sinais. Considerando o vocabulário, será de fato uma tarefa desafiadora.
Só o próprio Trump poderá conter, com indicações para seu secretariado – o equivalente ao ministério no Brasil –, a onda de volatilidade que fez bolsas globais mergulharem e a brasileira, em particular, acumular perda de 4,17% na semana. Como o mercado de capitais se antecipava à retomada da economia real, é um sinal de reação que se apaga, ao menos por um tempo. Aos poucos, ganha força a percepção de dificuldade extra para o Brasil.
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Nesta sexta-feira, o Itaú Unibanco reforçou o coro dos que esperam, no final do mês, poda menor no juro básico – 0,25 ponto percentual, em vez de 0,5. O corte na taxa de referência era uma das maiores expectativas para tirar de vez a atividade econômica empacada no fundo do poço. Parou de cair, mas voltar a subir vem se mostrando mais difícil do que se imaginava. O Bank of America Merrill Lynch reduziu a previsão de crescimento para o Brasil de 1,5% para 1% em 2017.
O mundo mergulha em outro ciclo, apelidado de "trumponomics". Até o Fundo Monetário Internacional (FMI) escalou seu porta-voz, Gerry Rice, para anunciar que "os efeitos negativos do comércio internacional devem ser levados em conta em favor daqueles que se sentem abandonados". Os chineses, um dos alvos do protecionismo de Trump, devem estar lançando aquela sutil maldição: "que vocês vivam tempos interessantes".