A posição mais fácil, neste momento em que os gaúchos acompanham o debate sobre medidas com potencial para mudar a face do Rio Grande do Sul, é se encastelar em preconceitos. De um lado, a noção de que quase todo órgão público é estorvo ou inutilidade. De outro, a de que qualquer rearranjo das funções de Estado é resultado de maquinações escusas.
É compreensível a dificuldade de aceitar o fato de que ruíram as finanças públicas de um Estado tão orgulhoso de seu passado. Mas entender as contas é essencial para reconstruí-las. O Rio Grande do Sul não é só cofres públicos vazios. Há campos cheios, fábricas de ponta, ainda que esvaziadas pela crise, e milhões de gaúchos que investem recursos, trabalho e criatividade para gerar renda e emprego.
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Um pacote com boas intenções, mas pouco efeito de curto prazo
Sem solução para o nó que atrasa salários e cobre de incerteza o futuro do serviço público, a depressão seguirá contaminando a todos. É preciso dar o primeiro passo. Um valor essencial do pacote do Piratini é equilibrar a divisão dos sacrifícios com todos os poderes.
O fato de boa parte das medidas apontar na direção certa não significa que todas sejam corretas e inevitáveis. E há lacunas: precisamos mais de um Tribunal Militar do que de fundações de pesquisa? E a pesquisa está focada em resultados relevantes para quem vive "no" Estado, não "do" Estado? Estabelecer em lei que o pagamento devido seja atrasado em quase um ano – regra proposta para o 13º salário – é regular descumprimento de contrato. Sempre foi, e deveria continuar sendo, um risco para todos, servidores e contribuintes, sejam trabalhadores ou empresários.
Tornou-se necessário discutir a privatização de empresas que, se não drenam recursos públicos, contribuem para pulverizar arrecadação em momento tão crítico. Esse debate precisa de dados, fatos e transparência: se não aprendermos com os erros do passado, não vamos acertar no presente nem no futuro. Vender patrimônio e abrir mão de receita, retendo passivos, já se provou mau negócio. Assim como manter públicas geradoras de prejuízos recorrentes.