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Projetar ganhos e perdas decorrentes de eventual privatização do Banrisul tornou-se obrigação desde que ficou clara a disposição do governo federal de incluir a hipótese nas negociações para um socorro mais robusto ao Rio Grande do Sul. Antes de qualquer outra avaliação, é preciso saber se há interessados – o Santander já avisou que se vê "obrigado" a analisar – e qual é a grandeza do valor, ao menos em estimativas iniciais.
Especialistas convergem para uma quantia superior a R$ 10 bilhões. Para facilitar as contas e manter prudência, tomemos essa base, que renderia aos cofres públicos R$ 5,7 bilhões – o Estado tem 57% do capital do banco, o restante está com investidores, boa parte dos quais é de estrangeiros. Representa mais de 60% do déficit apresentado pelo Piratini para abrir as tratativas com o governo federal, de R$ 9 bilhões até 2018.
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Agora fica mais fácil entender o motivo da pressão de Brasília: o que se vê, do ponto de vista do Planalto, é um Estado que atrasa salários e contesta pagamentos há quase dois anos, mas tem ativos que poderiam ajudar a sair dessa penúria. E aliviar o desembolso dos cofres federais demandado por essa unidade da federação. Isso posto, aí é que começam os problemas para os gaúchos.
Mais do que perdas simbólicas e comunitárias com a venda ou federalização do Banrisul, o ponto mais sensível da questão é: o que fazer com os recursos provenientes dessa transação. O Rio Grande do Sul tem dois casos de arrecadações bilionárias – menores, é verdade, mas ambas bilionárias – tragadas pelo poço sem fundo dos desvãos fiscais. E em dois governos bem diferentes, quase opostos.
No governo Yeda, a venda parcial de ações do mesmo Banrisul deveria ter começado a formar uma boia para a areia movediça da Previdência estadual. Às vésperas da eleição, virou asfalto. No governo Tarso, uma vitória na Justiça contra a União deveria ter reenergizado a CEEE. Só neutralizou pequena carga negativa da dívida da companhia, cuja situação financeira segue tão grave que existe a ameaça da perda de concessão.
Para que os gaúchos assumam posição responsável e informada sobre a hipótese de venda do Banrisul, é essencial definir qual será o destino dos recursos. Tanto os da capitalização do banco quanto os da ação judicial da CEEE estavam, em tese, amarrados. Os nós eram frouxos, e os bilhões se desgarraram. É possível garantir que não voltará a acontecer? É da resposta a essa pergunta que depende o futuro do Banrisul.