Há algum tempo, a coluna mencionou a expectativa em torno da divulgação dos vídeos das delações da Odebrecht e alguém perguntou: "o que importa não é a lista?". Como vimos, a lista de Janot, que virou lista de Fachin, tinha poucas novidades. Os vídeos, em compensação, permitem um mergulho fundo nos mecanismos que tanto associam a economia à política no Brasil, no capitalismo de compadres e nas relações "diferenciadas" - um dos eufemismos mais recorrentes para propina ou suborno -, pura e simples corrupção.
Não raro, agora e no passado, jornalistas de economia ouvem ou leem desabafos de empresários que mofam tentando fazer cadastro como fornecedores da Petrobras ou com projetos na fila de aprovação de crédito do BNDES. Nós e eles percebemos agora com clareza o que faltou: uma "relação diferenciada". Marcelo Odebrecht disse não conhecer político eleito sem caixa 2. Abre a questão: existem grupos empresariais que tenham crescido tanto em tempo tão curto prescindindo desse instrumento, do outro lado do balcão?
Muitos de nós assistimos à série de vídeos protagonizados pelos delatores com o mesmo horror e fascínio com que vemos histórias de ficção sobre desvios do poder. Como são verdadeiras, o horror supera em muito o fascínio. Até porque a Odebrecht é poderosa, grande financiadora de caixas 1, 2, 3, 4 e 5, mas, por maior que seja, não tem o monopólio desse mercado.
Como um dos delatores menciona, em ao menos um dos casos o estabelecimento de "relações diferenciadas" visava a emparelhar com uma concorrente do mesmo segmento que jogava de mão. Quando se sabe onde o mau jogador esconde o ás, fica mais fácil de fiscalizar suas manobras. Até agora, porém, o castelo que ruiu, do ponto de vista de quem dá as cartas, é de um naipe só. Tem mais jogo viciado nos salões.