Foi a típica ação e reação. De surpresa, os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira, anunciaram, nesta sexta-feira, a revisão do buraco no orçamento do próximo ano. E para muito mais – 63% acima – do que havia sido previsto. A bolsa de valores, que passava sem susto pelo ataque dos Estados Unidos a uma base aérea na Síria, reagiu na hora – encolheu a alta para quase nada.
Anunciado pouco mais de uma semana depois da tentativa de remendo do rombo extra de 2016, de R$ 58,2 bilhões acima dos R$ 139 bilhões que o governo estava autorizado legalmente a "ficar devendo" nas contas, esse recálculo espalhou temores e suspeitas. No primeiro caso, o óbvio, presente até na justificativa da conta refeita: os efeitos da recessão – ou, como preferem os ministros, da "crise na arrecadação" – vão se prolongar até o próximo ano. Uma reviravolta para quem previa a volta do crescimento já no primeiro trimestre deste ano.
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No segundo caso, duas dúvidas. Uma, que depois do sufoco para encontrar uma saída – se é que o rombo extra de 2016 pode ser considerado resolvido – o governo se antecipou para conferir o que havia projetado para o próximo. Outra, que pode haver algum mecanismo de "transferência de buracos" de um ano para outro.
O mecanismo, parecido com uma "pedalada", não é nada ortodoxo e foi negado pelo governo, mas o encadeamento dos anúncios fez nascer pelo em ovo. O primeiro anúncio foi cercado de dúvidas sobre a capacidade de entregar o recheio do rombo extra com as medidas tomadas. Na época do anúncio do déficit original de R$ 139 bilhões, o governo havia caracterizado o orçamento como "conservador" e "realista". Como se viu, não era.
Na sexta-feira, para explicar o novo recálculo, Dyogo Oliveira afirmou que o governo quer adotar uma meta – de déficit, fique claro – "crível". Para 2019, ainda há projeção de déficit de R$ 63,8 bilhões no setor público. Só para 2020, há estimativa de superávit, de R$ 23,2 bilhões.