Desde junho de 2016, quando os britânicos votaram pela saída da União Europeia, no episódio conhecido como Brexit, protecionismo e xenofobia haviam marcado eleições ao redor do mundo. Em várias, ameaçou levar seus representantes ao poder e acabou elegendo o mais poderoso chefe de Estado do planeta, Donald Trump.
Diante das surpresas no Reino Unido e nos Estados Unidos, havia tensão sobre o risco de uma vitória de Marine Le Pen na França. Agora que a ameaça passou – a vitória de Emmanuel Macron foi fartamente prevista nas pesquisas que, desta vez, não erraram –, o alívio é mais claro.
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O que a França impediu, na avaliação de não poucos analistas, foi uma ruptura que poderia ser fatal à União Europeia (UE). Marine Le Pen defendia a saída da França da aliança econômica. Diferentemente do Reino Unido, que nunca adotou o euro como moeda e, apesar de ser um sócio relevante, estava fora do “grupo de controle”, a França é sócia fundadora e um dos países mais atuantes, considerada um dos poucos contrapesos à Alemanha.
Sem a França, a União Europeia perderia o sentido. Macron não só é considerado um "europeísta", mas o mais pró-integração entre todos os candidatos do primeiro turno. Em seu discurso de vitória – no qual não esboçou sequer um sorriso –, comprometeu-se a defender a França. Doze palavras depois, prometeu defender a Europa e "reconstruir seus laços com os povos que a formam".
Em um mundo em que Nigel Farage e Boris Johnson, líderes do movimento pró-Brexit, mais Donald Trump, restabeleciam o protecionismo e a xenofobia, com pouco caso ao ambiente e muro entre vizinhos, a vitória de Macron representa o primeiro grande revés do isolacionismo nos últimos dois anos. Mais jovem presidente francês, Macron marcou diferença também ao dizer que estará atento ao terrorismo, mas também ao aquecimento global.
Quando parecia que o mundo havia entrado em uma grande máquina do tempo, com conceitos do passado invadindo o futuro, Macron, que desafiou convenções ao casar com a ex-professora do liceu, parece disposto a inverter o sinal. Tem uma responsabilidade gigantesca: mostrar que é possível.