Nem as cenas de confronto em Brasília, com depredação em prédios públicos e convocação de tropas federais, incendiaram o mercado financeiro nesta quarta-feira (24). Depois da reação de pânico da quinta-feira, que acionou pela primeira vez em quase uma década o mecanismo que interrompe negócios, a Esplanada literalmente pegando fogo não impressionou. O Ibovespa chegou a subir mais de 2%, e fechou com alta mais moderada, de 0,95%, por conta do foco no cenário pós-Temer.
– Circulam listas de possíveis nomes para suceder o presidente, com o consenso de que ele está de saída. O mercado aposta nessa possibilidade e se antecipa – comenta Zulmir Tres, gestor da Mestria Asset Management.
O analista lembra que a projeção de que as reformas trabalhista e previdenciária serão aprovadas com ou sem Temer no Planalto – como sinalizou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles – também anima os investidores.
Leia mais
Meirelles se apresenta à sucessão, depois tenta fazer a esfinge
Cresce risco de JBS ter o mesmo destino de império de outro Batista
Seis olhares sobre o futuro da crise e do Brasil
Outro elemento antiestresse, apesar da tensão nas ruas, foi a volta dos estrangeiros, que identificaram oportunidades abertas com a queda das cotações. Enquanto em março e abril havia ocorrido saída de R$ 3 bilhões, em maio há registro de entrada de R$ 1 bilhão.
Rafael Sabadell, gestor da GGR Investimentos, observa que, além dos conflitos em Brasília, especulações sobre eventual delação do banqueiro André Esteves, fundador do BTG Pactual, amenizaram o que, no início do dia, chegou a ser chamado de "otimismo pós-Temer".
– O mercado trabalha com a ideia de que alguém a favor das reformas possa assumir. Se Temer continuar, avalia que, com arranjo político, ele aprove alguma coisa, o que é mais difícil – menciona.
Entre tiros, fogo e tensão, só há um consenso na economia, tanto entre empresários quanto entre analistas do mercado financeiro: a situação só vai ficar clara quando estiver desenhada uma saída institucional para a crise gerada pela delação da JBS.
Papéis do empresa dos irmãos Batista sobem
Também pelo segundo dia, as ações da JBS voltaram a fechar em alta na bolsa. Na visão dos analistas, o que provoca o movimento é a expectativa de que o grupo dos irmãos batista tenha de vender fatias ou companhias inteiras ligadas à família para suprir a falta de outros meios de financiamento. A Alpargatas é uma das mais cotadas, até porque já vinha sendo negociada, assim como a Vigor, de laticínios.