Em algum lugar de Brasília, não há crise. Infelizmente, os movimentos que essa inexistência fictícia gera não equivalem aos que são criados quando empreendedores "ignoram" o cenário ruim para se lançar em novos projetos. Em algum lugar de Brasília, parece razoável pensar na criação de um fundo eleitoral de R$ 3,5 bilhões, boa parte dos quais sairia do orçamento da União.
Sim, o mesmo que é alvo de grande esforço para que não afunde além do rombo previsto em R$ 139 bilhões. Isso à custa da piora dos serviços públicos já ruins entregues em troca de uma das mais altas cargas tributárias em países com mesmo nível de desenvolvimento.
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Nessa realidade paralela, é razoável colocar essa agenda à frente das demais, inclusive de mudanças que poderiam dar sobrevida ao mesmo sistema carcomido que gerou a necessidade do fundo. Na semana em que a votação do relatório da reforma trabalhista na Comissão de Constituição e Justiça do Senado pode determinar o futuro do atual governo, do ensaio de reação à crise e da neutralidade de parcela considerável do PIB, o tom no Congresso indica que essa será a prioridade.
Os articuladores dizem saber que a iniciativa causará "forte rejeição popular", mas argumentam que, sem isso, não haverá eleição em 2018. E a proposta avança enquanto esferas opostas tremem à espera de duas delações arrasa-quarteirão: de um lado, Antonio Palocci, articulador dos governos petistas, de outro, Lucio Funaro, apontado como operador do núcleo do PMDB no poder.
Com teto de gastos e déficit profundo no orçamento, diante da dinheiro para pagar seguro-desemprego surge estudo sobre retenção do FGTS que cheira a confisco. Em tempos de cortes, primeiro os bilhões para a campanha eleitoral.