São tantas as distorções do capitalismo brasileiro, com estrutura de compadrio e recheio de jabuticabas, que acertar sua receita ainda vai demorar. A prisão de Joesley Batista e Ricardo Saud pode ser um fermento, acelerar o processo. Sinais de que drogas empresariais pesadas não são mais toleradas começaram logo após a divulgação dos termos de delação da JBS, que levantou uma onda popular de indignação raras vezes vista.
O motivo era fácil de entender: um poderoso grupo econômico engordou com dinheiro público – o seu, o nosso –, com o resultado comprou apoio no Legislativo, no Executivo e, possivelmente, no Judiciário. Quando tudo se tornou público, os responsáveis partiram para um confortável exílio nova-iorquino. O enredo é um pouco mais complexo, mas essa parte quase todos entenderam.
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Isso ocorreu em um período em que faltam recursos para manter até a deficiência crônica do serviço público. Pioraram as condições de educação, saúde, transporte. Faltou remédio e passaporte. Outros empresários, que não contavam com a proteção do Estado, quebraram. Sobrou desemprego. Para se manter, os brasileiros lançaram-se ao empreendedorismo, alguns por vocação, outros por falta de opção. Constataram que os negócios, na vida real, são bem diferentes dos que criaram e sustentaram o maior produtor de proteína animal do mundo, como a JBS se intitulava.
A prisão de um empresário e um alto executivo não reduz burocracia, não baixa custos de abrir e manter uma empresa, não trava a indústria de impor dificuldades para vender facilidades. Mesmo assim, melhora o ambiente de negócios. Dá o recado de que desfaçatez tem limites – embora ainda sejam dilatados –, e implodir um país para salvar a própria pele nem sempre dá certo. Terá custos, mas serão mais assimiláveis do que a vergonha de uma nação sem vergonha.