Aos oito anos, Cleiton bebia cerveja. Aos nove, Bruna traficava. Foram se conhecer bem mais tarde, cheirando cocaína embaixo de marquises – ele sem casa porque cansara de apanhar do pai; ela sem casa porque a mãe morrera com aids.

– Um salvou o outro – garante Cleiton, 27 anos. – A Bruna dizia "eu quero largar desta vida", e eu dizia "também quero, mas não tenho força".

Foram juntos à igreja, foram juntos ao médico, prometeram se limpar – e começaram limpando a casa. Casa, aqui, é sinônimo de lar, não de imóvel: eles vivem sob o viaduto da Avenida Júlio de Castilhos, em frente à Rodoviária, em um canto com cama sempre arrumada, tapete tipo persa, fogão limpinho e mesa de jantar.

Em vídeo, conheça o lar e a história de Bruna e Cleiton:

Nada cheira mal, pelo contrário. Quem passa por ali sorri com a decoração, com a parede falsa de madeira, com o quadro apoiado nela, com a almofada de coração e com os bichinhos de pelúcia.

– Sou apaixonada por ursinho – assume Bruna, 32 anos, lembrando que resgatar o capricho da mãe foi uma prioridade ao largar as drogas.

– A sujeira afasta as pessoas – avalia Cleiton. – Só doaram essas coisas para nós porque a gente inspira confiança.

Longe da bebida há mais de ano, cercados por três vira-latas – o Toddy, a Laica e a Diana –, Bruna e Cleiton sobrevivem da reciclagem enquanto fazem planos. O maior sonho é trabalhar como caseiros, cuidando de algum sítio sob o teto do patrão. Até lá, vão seguir na labuta para manter o que já têm: uma inatacável dignidade.