Escrevo de Nova York, onde a eleição americana deve terminar no dia 8 de novembro, próxima terça-feira.
É aqui o quartel-general das duas campanhas, de Hillary Clinton, no Brooklyn, e de Donald Trump, na Trump Tower, na Quinta Avenida de Manhattan. Nesses locais, na noite de terça, haverá festa e lágrimas. A Times Square, onde ZH montará sua base, se tornará o centro nervoso nos minutos finais. Ecoará nos telões de LED e no neon dos arranha-céus a tensão, os gritos de comemoração ao fechamento de cada Estado.
É assim nos Estados Unidos, onde acabo de desembarcar para a cobertura da minha terceira eleição por Zero Hora.
Como falei, escrevo de Nova York, onde essa cobertura será encerrada. E onde começa agora.
Do terminal 2 do Aeroporto John F. Kennedy, embarco para Columbus, Estado de Ohio. Por que lá? Porque Ohio, a exemplo de outras eleições, é um dos chamados swing states, Estados decisivos da disputa. Estados que ora votam em um candidato democrata, ora votam em um candidato republicano. Por essa indefinição, acaba sendo o principal campo de batalha, expressão que os americanos gostam de chamar de battleground. Desde os anos 1960, nenhum candidato chegou à Casa Branca sem vencer em Ohio.
Cobri por ZH a eleição de Barack Obama, em 2008, diante do republicano John McCain após oito anos de governo George W. Bush. Confesso que foi uma disputa emocionante - eu estava lá, no Grant Park de Chicago quando McCain anunciou a derrota pelo telão. E, minutos depois, Obama apareceu no palco. Também cobri a reeleição do democrata sobre Mitt Romney, em 2012.
A disputa de agora, entre Hillary e Trump,encerra oito anos de um presidente que foi além do cargo. Imprimiu, ao lado da mulher Michelle e das duas filhas, um novo conceito na Casa Branca, angariando simpatia mundo afora. É verdade que Obama não fez tudo o que era esperado: Guantánamo segue aberta; a reforma na saúde fez emergir uma antipatia mortal da classe média mais conservadora, ele titubeou na Síria; foi barrado em sua reforma migratória... Ok, não vou aprofundar aqui o assunto. O legado de Obama será tema desta coluna nos próximos dias e meses.
Voltamos a 2016. Para que vocês compreendam, cobrir um pleito como esse, como jornalista, é bastante complexo. Os candidatos mudam de lugar em poucas horas. Como precisam conquistar vitórias nesses Estados-chave (os tais swing states), eles se dedicam a viajar ora para um lado, ora para outro. De avião, claro. E nós, jornalistas, corremos atrás...
Tentarei nessa cobertura estar em alguns lugares onde Hillary e Trump estarão. Mas, mais do que isso, minha ideia é fazer uma cobertura que levará você, amigo leitor, à América profunda: o que pensam os americanos? Como chegam a essa eleição tão divididos? Como explicar o fenômeno midiático-bilionário Donald Trump? E as trapalhadas de Hillary Clinton com seus e-mails, enquanto era secretária de Estado de Obama, eram apenas trapalhadas, mesmo?
São questões que, ao longo da viagem, vou tentar responder.
Nossa viagem começa, então, agora: em Nova York. Depois, Columbus (Ohio), ainda nesta noite. Na sequência, minha ideia é seguir para Charlotte e Selma (Carolina do Norte, onde os dois candidatos devem estar na quinta-feira), e, depois, chegar à Filadélfia, que foi capital americana, enquanto Washington DC era construída. Nossa cobertura terminará aqui, onde começa hoje: Nova York, curiosamente 15 anos depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, que - perdõem o clichê, mudaram os EUA e o mundo.
O primeiro passo para entender a eleição americana é não cair no erro fácil de se analisar uma pesquisa isolada, como a da ABC News e The Washington Post divulgada hoje e que mostrou Trump um ponto percentual à frente de Hillary - 46% a 45%. Não é assim na eleição americana. O mais correto para se chegar ao mais próximo da realidade seria analisar a média de muitas pesquisas de intenção de voto. Para isso, o melhor site é o Real Clear Politics: em todos os levantamentos, Hillary ainda lidera. Porém, a diferença para Trump vem caindo.
Não tenho dúvidas de que essa será a eleição mais eletrizante das últimas décadas, provavelmente disputada voto a voto - com choro e ranger de dentes ao final. Bacana de acompanhar. Vem comigo nessa viagem? Não só aqui no site ou páginas de ZH, mas também no Twitter (@rlopesrepoter), no Face e no Instagram (rlopesreporter).
Boa noite!