
No próximo dia 29, quarta-feira da semana que vem, a primeira-ministra britânica, Theresa May, irá acionar o artigo 50 do Tratado de Lisboa, que estabelece os dois anos para que um país deixe da União Europeia (UE). Trata-se, na prática, da ativação formal do Brexit.
Theresa já tem a faca e o queijo na mão, reuniu todos os requisitos legais desde o referendo em que os britânicos votaram pela saída – e até a bênção da rainha Elizabeth II. Agora, a guerra é outra, no plano interno.
No melhor estilo "faça o que eu digo, não faça o que eu faço", Theresa inicia nesta segunda-feira um périplo pelos demais países que compõem o Reino Unido – além da própria Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. O objetivo: ouvir descontentes, garantir a coesão interna e aplacar movimentos separatistas. Missão inglória, sobretudo na Escócia e na Irlanda do Norte, regiões que votaram pela permanência na União Européia, não por acaso locais onde há desejo latente de independência de Londres e do reino de Sua Majestade.
De todos, a Escócia é o terreno mais minado: em 2014, houve um referendo pela separação do Reino Unido. O "não" à independência venceu por uma diferença de pouco mais de 10 pontos percentuais (55, 3% contra 44,7%), mas a derrota não foi engolida, e uma nova votação, uma espécie de segundo turno, é muito provável. A primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, indica que seguirá os passos do antecessor, Alex Salmond, e irá apoiar a nova tentativa de independência em 2018.
Não se sabe o efeito do Brexit nas populações mais resistentes, que votaram pelo “não” à independência. O “sim”, de todo modo, venceu em cidades importantes como Glasgow, a maior da Escócia, em West Dunbartonshire e Dundee.
A Irlanda do Norte é outro dos pontos desafiadores da viagem de Theresa May. O Sinn Fein, partido político e braço do antigo IRA (Exército Republicano Irlandês, que até os anos 1990 tentou a independência pela luta armada), já afirmou que irá apoiar um referendo na região, semelhante ao escocês.
Concorde-se ou não que o Reino Unido acertou ao tomar a decisão de sair da UE, uma coisa é certa: será um salto no desconhecido a partir do dia 29. Se há cama elástica lá embaixo, ninguém sabe. O futuro dirá se a escolha foi acertada.
O que se vê no plano interno, até agora, que não houve reflexão profunda sobre seu impacto na própria coesão do reino. Há claros riscos de instabilidade. A UE apaziguava, de certa forma, os ânimos nacionalistas e processos separatistas. O Brexit muda tudo.