Sejamos claros: o Estado Islâmico não é um Estado. Nem nunca será, dado o estrangulamento de seu território no Iraque e na Síria. E, convenhamos, seu líder, autointitulado “califa” do suposto califado, Abu Bakr al-Baghdadi, é um demagogo travestido de líder religioso, que estuprou a religião islâmica ao longo dos últimos 10 anos.
Se sua morte for confirmada – e é preciso cautela com a informação, porque seu assassinato já foi anunciado dezenas de vezes -, o grupo terrorista autointitulado Estado Islâmico terá sofrido sua mais dura derrota desde a perda de seus territórios, um a um, no Iraque: as importantes cidades de Ramadi (cidade em que ZH esteve em maio do ano passado), Fallujah e praticamente toda Mosul.
Será o fim do extremista nascido em Samarra, no Iraque, que conseguiu crescer nas entranhas do terror, galgando postos de forma impressionante pela rapidez graças a sua capacidade de articular apoio, iniciada em sua prisão, no centro clandestino no sul iraquiano de Camp Bucca, para onde foi levado após ser capturado em Falluja pelas tropas americanas, em fevereiro de 2004. Lá, atrás das grades, liderava orações e catequizava outros prisioneiros sobre a jihad. Firmou alianças que, ao ser libertado, 10 meses depois, o ajudariam a chegar até o jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, herdeiro da rede Al-Qaeda, de Osama Bin Laden, no Iraque.
Com a morte de Al-Zarqawi, em um bombardeio da aviação americana em 2006, e com o sucessor egípcio Abu Ayyub al-Masri tendo extinguido o grupo Al-Qaeda no Iraque e fundado o Estado Islâmico, Baghdadi ganhou força própria: virou orientador do Comitê da Sharia e entrou no Conselho Shura da organização. Estava cada vez mais próximo do emir do Estado Islâmico, Abu Omar al-Baghdadi. Com a morte do emir, ele foi alçado, naturalmente, ao posto máximo do grupo do terror.
É impressionante a cena descrita no livro Estado Islâmico – Desvendando o Exército do Terror, de Michael Weiss e Hassan Hassan, leitura altamente recomendada para entender o terrorismo internacional. No dia talvez de maior glória de Al-Baghdadi, ele estava no alto do púlpito da Grande Mesquia de Al-Nuri, em Mosul, cidade que havia tomado, colocando para correr as tropas iraquianas. Ali, ele proclamou o renascimento da organização, praticamente proclamou o califado, que expandiria suas teias para a vizinha Síria, cuja fronteira fica perto da cidade:
- - Corram, ó muçulmanos, para o seu Estado. Sim, é o seu estado. Corram, porque a Síria não é para os sírios, e o Iraque não é para os iraquianos.
Al-Baghdadi queria abolir as fronteiras nacionais dos Estados modernos como os conhecemos. Implantar um falso califado. Tenha morrido ou não, o fato é que não conseguiu.
Leia mais:
Para entender o Estado Islâmico (1): o horror que nasceu da Al-Qaeda
Para entender o Estado Islâmico (2): prisões como especialização do terror
Para entender o Estado Islâmico (3): o encontro com Bin Laden
Para entender o Estado Islâmico (4): o primeiro brasileiro vítima do terror
Para entender o Estado Islâmico (5): mais cruel do que a Al-Qaeda
Para entender o Estado Islâmico (final): cai a fronteira, nasce o califado